Artigo: Jornalista é 'essencial' para trabalhar, mas não é 'prioritário' para ser vacinado

O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) têm empreendido gestões junto aos órgãos públicos para incluir os profissionais de imprensa, que estão na linha de frente do trabalho, no rol das categorias de trabalhadores consideradas prioritárias no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19.

Em nosso estado, a campanha tem a participação do Sindicato dos Trabalhadores em Rádio e TV na Bahia (Sinterp) e da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).

O decreto federal 10.288/20, no artigo 4º, incluiu a imprensa como serviço essencial durante a pandemia: “São considerados essenciais as atividades e os serviços relacionados à imprensa, por todos os meios de comunicação e divulgação disponíveis, incluídos a radiodifusão de sons e de imagens, a internet, os jornais e as revistas, dentre outros”.

Porém o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação, de janeiro de 2021, não incluiu os profissionais de jornal, rádio, TV, blogs e assessorias no rol das categorias prioritárias para a imunização contra a covid. O mesmo vale para a gripe a H1N1, em cujo programa de imunização também não somos indicados.

As empresas e contratantes dos serviços destes profissionais usam bem o decreto de março de 2020. Jornalistas e radialistas, sem direito à negativa, vão a unidades de saúde, supermercados, centros comerciais, terminais de transbordo, feiras e outros pontos com possibilidade de aglomeração para produzir matérias. Muitas vezes, fazem isso sem receber equipamentos de proteção adequados, como a máscara N95, e, ainda, se deslocando através de transporte comunitário, como táxi e carro por aplicativo.

Os que trabalham como assessores de imprensa em empresas, organizações sociais e órgãos governamentais, que inicialmente puderam desenvolver atividades de forma remota, já estão sendo convocados para o serviço presencial. Também vulneráveis ao novo coronavírus em ambiente de trabalho, ficam em salas fechadas e sem a observância de rígidos protocolos de prevenção. Além disso, fazem cobertura de atividades de seus assessorados, como é o caso de profissionais que prestam serviço a instituições do governo e de prefeituras, acompanhando gestores em reuniões e eventos.

Essa exposição tem cobrado um preço alto. Um levantamento feito pela Fenaj mostrou que, até o final de janeiro deste ano, perderam a vida 94 jornalistas, vítimas da covid-19. Em março, a organização Press Emblem Campaign informou que o Brasil foi responsável por um a cada três jornalistas mortos pela doença no mês. A ONG ainda levantou que a idade das vítimas está sendo menor, quando comparada a de registros de casos anteriores. Quase a metade dos profissionais de imprensa que morreram no período observado tinha entre 40 e 60 anos. Ou seja, são colegas que estão na ativa.

Já venceu o prazo para as autoridades brasileiras tratarem o pleito da vacinação dos profissionais de imprensa como uma necessidade real e não como um privilégio corporativo. Na Assembleia Legislativa da Bahia, já há um projeto de lei neste sentido, além de outros cinco projetos de indicação. As câmaras de vereadores de Salvador e de Vitória da Conquista também já aprovaram matérias semelhantes.

Se jornalista e radialista são “essenciais” para trabalhar, é lógico e consequente que deveriam ser “prioritários” para serem vacinados.

Com a palavra, o presidente da República, o governador do Estado e os prefeitos.

*Moacy Neves é presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia