Artigo – “Deixa essa pandemia passar!”

O título nos sugere o mote mais recentemente popularizado no diálogo entre as pessoas e ouvido constantemente nos últimos 14 meses em que a humanidade se viu impulsionada ao afastamento físico, e ao isolamento de amigos e familiares, de forma a estimular a proteção natural contra a eventual transmissão indesejável desse vírus infeliz, que se chama: “Novo Coronavírus”. Aliás, que se denomina ou apelidado de... porque ninguém o chamará, jamais!

Nenhum castigo pode ser mais doloroso para um povo tão espontâneo e alegre como o brasileiro, do que ser obrigado a cumprir protocolos de comportamento que lhe impõem o impedimento de circular livremente, dar e receber o abraço afetuoso, e bloquear o sorriso comunicativo e feliz, pela necessidade do uso da máscara protetora.

Como não poderia ser diferente, o brasileiro, do alto da sua capacidade criativa, procurou compensar a impossibilidade de exteriorizar o seu sorriso, e transformou as máscaras numa infinidade de modelos sugestivos, pelos quais busca transmitir algumas interessantes mensagens. Esse bloqueio favoreceu a muitos a oportunidade de uma grande descoberta: que os olhos, também podem sorrir! E isso nos faz lembrar um provérbio de que “aquilo que os olhos não veem o coração não sente...” Então, ver ou rever um amigo ou um parente e não poder nem apertar a mão, é realmente um duro golpe nas relações afetivas.

O hábito do bom e divertido papo entre as pessoas, mesmo sem relacionamento habitual, como sempre se viu nas filas de banco, feiras e mercados, cederam lugar ao silêncio e ao distanciamento mínimo de 1,5m, como se até pelo simples som da voz – ainda que protegido pela máscara -, pudesse haver o risco do contágio... Vizinhos não mais se visitam desde muito tempo! É um cenário de total indiferença entre as pessoas! 

Interessante é que a frase consagrada – “DEIXA ESSA PANDEMIA PASSAR!” -, tem sido utilizada por aquelas pessoas que procuram expressar o seu sentimento sincero de frustração pela impossibilidade dos encontros presenciais, e que antes ocorriam com naturalidade e frequência. Por outro lado, também, permitiu um forte álibi para aqueles que não têm a prática no seu cotidiano de vida de visitar parentes e amigos, e que usam agora a frase como um subterfúgio para justificar a falha de um hábito comportamental. Se brincar, até aos devedores essa frase está servindo de desculpas. Não duvidem!

Por um momento, o mote parece nos passar uma concepção de que estamos mais preocupados com o aspecto social, da nostalgia dos encontros festivos e comemorativos, do que, propriamente, a preocupação com tantas vidas perdidas! Até que por instantes esse conceito pode ser verdadeiro, mas, é preciso ser justo para reconhecer que essa geração nunca passou por essa dramática experiência de conviver com restrições e sofrimentos de toda espécie, como: elevado número de empresas fechadas; muitos desempregados; a dificuldade de muitos em prover a própria alimentação familiar; a impossibilidade da livre movimentação, seja na cidade onde vive ou as agradáveis viagens; a falta do aperto de mão que transmite energia; e o carinho do abraço aconchegante, hoje intermediado pela frieza de uma capa plástica!

Diante de todo esse contexto de carências e frustrações que afetam o brasileiro nesse momento de dor e incertezas, nada seria mais esperado da parte dos Governantes em geral, dos Deputados e Senadores, e dos Ministros do Judiciário, além do empenho dos milhares de Servidores Públicos, do que um sentimento de solidariedade e dedicação do tempo em caráter integral, voltado à busca das soluções objetivas para os problemas que impedem maior rapidez no combate ao vírus! Mas, pelo jeito, se depender deles nada de nada irá acontecer, porque os interesses deles são outros, principalmente, ficar na torcida para que chegue logo o final do mês. Nada, além disso!

Na direção contrária de tudo isso, o que se vê é um mundo de discussões improdutivas, debates em torno de CPIs inúteis e de fins políticos, e a disputa de vaidades pessoais que visam, apenas, à satisfação dos interesses individuais e nunca coletivos.

Não fosse o trabalho solidário de grupos de pessoas da coletividade, entidades sociais e religiosas, na louvável arrecadação de recursos para socorrer com alimentos aos milhões de adultos e crianças carentes, não seria possível avaliar como estaria esse nosso Brasil, hoje! Alguma dúvida?

Que Deus, o Grande Arquiteto do Universo, possa nos permitir um breve e agradável reencontro: “DEIXA ESSA PANDEMIA PASSAR!”

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador – BA.