Artigo: Indisciplina, festa, pouco caso

Disseram-me sempre nos bancos escolares, sobretudo nos livros: o brasileiro é indisciplinado, gente livre, sem amarrar, vivendo à larga, bucho cheio, pés descalços. Até posso compreender.

Os nossos primeiros visitantes constataram. Henry Coster, Tollenare, Graaham. Padres e bispos. Nossa gente não podia ouvir um prato bater na cozinha e já os pés abismavam no terreiro, debaixo de chinelos e tamancos.

Brincar, dançar, saracotear não é indisciplina. Apenas um modo de ser. Apenas. E apenas não é muito. É apenas, simples assim. Nos versos do gordo Ascenso, hora de comer, comer, hora de brincar, brincar, hora de trabalhar, pernas pro ar que ninguém é de ferro.

Assim, uma hora para cada coisa, compreenda: rigorosa disciplina, brincar, comer e pernas pro ar, com organização, e ainda chama indisciplina.

Agora, no nosso tempo tenebroso, ficar em casa. Máscara. Solidão. E, sobretudo, além de tudo, Vacina...com maiúscula tudo....Vacina...Não importa de que  país, de que laboratório, de que região...Vacina, sim, acima de tudo, vacina.....em duas ou numa única dose...no braço na perna, no peito....somente isso vacina....sempre....vacina, vacina, vacina, não descuide, não cochile, não durma, vacina...

Algumas pessoas gostam de aglomeração, de farra, de festa....otário, babaca, seboso...tráfico, drogado, usuário...sem dúvida, sem briga, sem questão...

Nunca tive dúvida, nunca questionei desde o primeiro momento, festa é coisa de traficante, de bandido, sem outra explicação...

Raimundo Carrero-Membro da Academia Pernambucana de Letras