Pós Eleição: Excluídos também das urnas em Juazeiro e Petrolina os moradores em situação de rua são desafios para administrações

Especialistas afirmam que moradores de rua, os sem-teto deixam de ser prioridade para a classe política por não terem título de eleitor. Eles não foram destaques nos guias eleitorais e nos programas de governo. Os moradores de situação de rua são invisíveis aos olhos das outras pessoas que andam nas avenidas e dentro do seus carros. A atenção só vem quando "acompanhado de um pedido de ajuda". 

Os moradores em situação de rua vem crescendo em Petrolina e Juazeiro a cada ano. Com a crise econômica gerada pela pandemia de covid-19, é bem possível que essa população vulnerável tem crescido não só em Petrolina e Juazeiro, mas também em outras cidades vizinhas.

A redação da redeGN conversou com alguns deles. A maioria têm entre 31 e 50 anos; se declaram negros (preto + pardo) e mais de 60% "vivem" na região central das cidades e orla. Em Juazeiro existe um grupo que até barraca montou na orla São mulheres, homens e crianças.

"Jesuíno é o apelido de um homem que vive na rua desde que perdeu o emprego e a família. Ele trabalha vigiando carros em uma área durante parte da manhã até o lugar esvaziar geralmente no período da noite. Ele não entende muito bem o cenário político do Brasil, mas se mostra indignado com as histórias de corrupção. 

Jesuíno conta que toma banho do rio São Francisco. "E constrangido mostra que uma água de esgoto vem saindo de um bueiro na orla".

Maria pediu para não ser identificada. "Não tenho emprego. Vivo dias em Juazeiro outros em Petrolina na busca do pão". Ela amamenta uma criança.

Não existem levantamentos atualizados sobre o número da população de rua, os sem-tetos no Brasil. O mais recente é um compilado feito por ONGs que apontam que, cerca de 5 milhões de pessoas vivem em domicílios improvisados; como grutas, galpões, tendas, pontes e barracas. O número oficial é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010. São pessoas que vivem em meio à crueldade da miséria social e não fazem parte dos planos de quem concorre a cargos eletivos, dizem especialistas.

Moradores de rua não fazem parte dos planos de governo porque eles não elegem ninguém. São duas populações extremamente abandonadas no discurso político e eleitoral. Muitos não podem votar ou outros tantos não conseguem exercer esse direito por estarem sem documentação, explica a historiadora Marjorie Nogueira, do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB). Ela explica que os discursos para cativar a população mais empobrecida praticamente não existem, pois eles são desprestigiados e invisibilizados, como se não fizessem a menor diferença para o quociente eleitoral.

A última vez que o Ministério do Desenvolvimento Social divulgou uma pesquisa sobre o número de moradores de rua no Brasil foi no ano de 2007. O estudo revelou que havia 92,2 mil famílias inscritas no Cadastro Único como ;pessoas em situação de rua;.

"O desemprego crescente é um evento disparador que pode levar as pessoas às ruas, mas não é o único. O censo mostra como fatores principais a questão do uso abusivo de álcool e outras drogas, problemas psiquiátricos, conflito intrafamiliar e dinâmicas de violência doméstica", explica Renata Bichir, professora da USP e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole.

"A solução passa por várias políticas que devem ser integradas: assistência social, moradia, saúde, melhorias de abrigos, educação e combate à pobreza e à desigualdade. A gente ainda tem uma grande confusão sobre o assunto, pois falamos muito de assistencialismo e filantropia. Óbvio que eles são importantes, mas a assistência social precisa ser encarada pelos prefeitos como uma política pública de fato", diz Bichir.

Segundo a pesquisadora, já é possível notar uma mudança de perfil dessa população, que, antes da pandemia, era formada principalmente por homens. "Não temos só um aumento de contingente, mas de perfil. Hoje já vemos famílias inteiras vivendo nas ruas, com crianças e mulheres. Quando isso acontece, precisamos pensar também em dinâmicas de violência sexual, abuso e trabalho infantil. Isso muda completamente o patamar da política pública nessa área", afirma Bichir.

Redação redeGN