Em plena pandemia, poucos se preocupam com a acústica

Muitos moradores de apartamentos vêm sofrendo demais com a falta do conforto acústico, desde os anos 80 em virtude da racionalização do setor da construção civil, bem como, redução de custos dentro das obras, novas tecnologias, novos materiais e orçamentos enxutos. As reclamações nessa pandemia tornaram-se constantes.

Materiais mais leves e menos robustos ou densos, falta de projetos de acústica específicos visando o isolamento e ou condicionamento acústico, bem como, descumprimento das normas vêm gerando todo esse desconforto. Algumas premissas iniciais devem ser seguidas para o isolamento e condicionamento acústico, uma vez que a acústica é considerada um sistema- mola, massa, mola ou massa-mola-massa. E nunca esses custos devem sobrepor o bem- estar dos usuários.

Muitas empresas acreditam que reduzindo o peso da construção com a única intenção de beneficiar a redução de custo e a margem de lucro, deixando de existir lajes e paredes mais densas e robustas, isso irá resolver e quando vamos compatibilizar os projetos, muitas das vezes, conseguimos aproveitar a maioria dos materiais já aprovados em seu memorial descritivo inicial. A acústica deve ser um complemento da arquitetura e não uma concorrente.

Em vigor desde maio de 2012, após a sua revisão, em julho de 2013, a Norma de Desempenho (NBR 15575) visa o aumento de qualidade das habitações brasileiras estabelecendo requisitos de desempenho para prédios habitacionais, dentre os seis itens, um deles prioriza e trata da acústica, o conforto acústico que prevê o isolamento das paredes externas e ambientes internos, entre pisos e paredes, ruído aéreo, ruídos de tubulações e ruído de fachada. Isso promovendo uma boa performance em diversos requisitos essenciais em uma edificação. Nesse período, com as pessoas dentro de casa, crianças brincando e correndo, atividades em home office e as aulas on-line e lives, recebemos aqui no escritório muitas ligações e reclamações pedindo orientação e soluções. No Recife, especificamente, existe uma lei que trata sobre acústica em salões de festas- outra grande reclamação pois muitas vezes o espaço foi projetado para uma simples festa, um espaço gourmet, e moradores querem colocar bandas e realizar grandes shows.  

A implantação e preocupação desta normativa é excelente para o mercado da construção civil, porque regulamenta a instalação em todos os novos edifícios residenciais, promovendo privacidade dentro dos imóveis e em suas áreas de lazer. Defendo isso para usar no marketing dos empreedimentos. Seu grande objetivo é atender as necessidades humanas, beneficiando a qualidade de vida dos futuros moradores. Estamos no ano internacional do som, e, não foi por acaso que essa temática foi escolhida pela Unesco. A preocupação com o impacto do ruído na vida das pessoas é cada vez maior e mais necessária em todo o mundo. De acordo com a OMS, ocupamos o quinto lugar no ranking dos países com os maiores índices de poluição sonora.

O principal aspecto a ser considerado é como o ruído (barulho) afeta o organismo humano e como ele contribui para o desenvolvimento de diversos problemas de saúde, entre eles o estresse, problemas psicológicos e até a impotência sexual. O ambiente corporativo também se beneficia destas normas específicas, empresas que passam a contar com escritórios e ambientes acusticamente preparados, garantem a produtividade, melhora a qualidade de vida e a saúde dos seus colaboradores.

Fred Brennand *Engenheiro Civil, Eng. de Seg. do Trab. Gestor Ambiental, especialista em acústica e sócio diretor da Brennand Engenharia & Acústica

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