Reportagem Especial: Tema desertificação do semiárido não é tratado no Governo Federal

A natureza parece estar se vingando da ação do homem. Desde que a temperatura passou a ser registrada, no século XIX, a cada ano os dias tem sido mais quentes. O avanço da aridez na terra dobrou nas duas últimas décadas.

Cabrobó, Belém do São Francisco, Carnaubeira da Penha, Floresta e Itacuruba, Pernambuco e Gilbués, Piauí, cidades que estão próximas a Juazeiro e Petrolina, estão nas estatísticas de serem uma das áreas mais severas dos seis núcleos de desertificação no Brasil, que incluí ainda Irauçuba (Ceará), Seridó (Rio Grande do Norte), Cariris Velho (Paraíba) e Sertão do São Francisco (Bahia). 

O assunto pandemia tirou o assunto desertificação do mapa das reportagens. Sem chuva, aumenta a cada dia o processo de degradação ambiental sem precedentes que vem transformando o sertão num deserto e onde vidas humanas a cada segundo respiram o ciclo da pobreza, que se retroalimenta da seca na região.

Nos governos anteriores havia  uma Comissão Nacional de Combate à Desertificação. Procurado pela reportagem da redeGN ninguém quer falar sobre o assunto. Os temas salinização das áreas irrigadas, processo erosivo, áreas de reassentamento da barragem de Itaparica que ainda não foram ocupadas, desmatamento e que mais de 600 hectares já estão inutilizados nas margens dos rios são assuntos "proibidos".

O pesquisador Aldrin Pérez-Marin, do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), afirma que 85% do semiárido brasileiro está ficando desertificado e 9% já está totalmente desertificado, num processo praticamente irreversível. A desertificação atinge 1.488 municípios brasileiros e está espalhada por nove estados do semiárido nordestino, além do Norte de Minas Gerais e Espírito Santo.

Pérez-Marin ressalta que a desertificação não é sinônimo de seca.

A reportagem da redeGN teve acesso ao relatório do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), Desertificação e Mudanças Climáticas no Semiárido Brasileiro, resultado de um esforço coletivo que vem sendo promovido pelo INSA, que tem como parceiro a Embrapa Semiárido.

Ainda que o Brasil seja um dos 192 países signatários da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês), o tema perdeu força no Brasil do Governo Jair Bolsonaro. Ninguém do governo fala sobre o assunto, como se problema tivesse sido resolvido. O fim da Década para os Desertos e a Luta contra a Desertificação (2010-2020), decretada pelas Nações Unidas (ONU), trouxe nos último anos poucos resultados e o que era seco ficou ainda mais seco. 

Ano passado a jornalista Liana Melo, especializada em Economia e Meio Ambiente, editora do Projeto #Colabora, mostrou que a desertificação de Gilbués, Piauí, por exemplo, é parte de um problema cuja dimensão é mundial. 

As áreas mais secas do mundo  vêm aumentando, levando a uma perda 24 bilhões de toneladas de terra fértil no planeta todos os anos, o que provoca, pelos cálculos das Nações Unidas (ONU), uma redução do produto interno bruto (PIB) global de até 8% ao ano. Segundo dados do Novo Atlas Mundial da Desertificação, cerca de 75% da área terrestre do planeta já estão degradados e mais de 90% podem ser afetados até 2050. Globalmente, uma área total de metade do tamanho da União Europeia, ou seja, 4,18 milhões de km2, é degradada anualmente, ficando imprestável para a agricultura.

Pesquisadores e estudiosos apontam que “a desertificação é um fenômeno antrópico, causado pelo ser humano e pelo seu modelo de desenvolvimento. Portanto, a desertificação é um fenômeno provocado pelo homem”. Pela definição clássica ONU, o fenômeno só ocorre em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas. Suas causas são variadas, mas em Gilbués a mineração indiscriminada acelerou o processo de erosão, associada ao desmatamento, às queimadas, 30% da matriz energética do Nordeste é alimentada por lenha e ao pastoreio de caprinos e ovinos acima da capacidade de suporte do ambiente.

Redação redeGN Foto: Arquivo