Reportagem Especial: agricultores familiares enfrentam crise apostando em novas formas de comercialização de produtos orgânicos

Para o enfrentamento da pandemia de coronavírus com garantia de segurança alimentar e geração de renda para as famílias de  agricultores, a Articulação Nacional de Agroecologia lançou uma campanha pelo fortalecimento do Programa de Aquisição de Alimentos  (PAA) pelo governo federal, assim como pelos estados e municípios. 

Na Bahia existem mais de 17 mil empreendimentos em 2.274 municípios, envolvendo mais de 1 milhão de pessoas ligadas a economia solidária, sendo mais de 54 porcento organizada em forma de associação. 

Contando com a adesão de mais de 700 organizações e redes de mobilização da sociedade civil, essa iniciativa defende a aquisição de  300 mil toneladas DE alimentos, nos próximos meses, mobilizando, para tanto, 150 mil famílias de agricultores de todo o país.

Enquanto o resultado dessa proposta não acontece na prática os agricultores orgânicos buscam outras formas de sobrevivência. Por meio de contato via WhatsApp, com a reportagem da redeGN, o técnico em agroecologia, Orlando José Vieira, que mora na comunidade do Teixeira, localizado em Sobradinho, Bahia, diz que devido a pandemia todas as entregas de produtos agroecológicos provenientes da  agricultura familiar, estão sendo feitos por encomendas.

"Os clientes da feira entram em contato e mandam a lista e os agricultores providenciam. Frutas, folhas, legumes, ovos e verduras, Tudo sem uso de agrotóxicos, lógico. Saudável", diz Orlando. Os produtos são frutos do trabalho desenvolvido na Associação Terra Nossa, Associação Fonte de Vida e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Vale da Conquista.

Em Petrolina, Nivalda Pereira de Araújo, presidente da Associação da Agricultura Familiar do Assentamento Mandacaru, diz que o momento é de enfrentar a crise. "Estamos vendendo na feira da Areia Branca e temos também comercio com o Piauí. O momento é de trabalho. Não podemos desanimar".  Diante do avanço da pandemia de coronavírus e da determinação de medidas de isolamento social nas cidades, desde março, os pedidos tem  exigido rapidez dos agricultores na revisão de suas estratégias de atuação. 

A agricultora Mauricélia Marcelino Lucas, avaliou o momento muito difícil para quem trabalha especificamente com a agricultura familiar orgânica. Ela desstaca a força de vontade e esforços coletivos dos agricultores envolvidos na produção. "Os fregueses já não vão em grande quantidade para as feiras livres em Juazeiro e Petrolina que estão proibidas e infelizmente alguns parceiros de supermercados cancelaram os pedidos pela metade. A gente faz entrega por pedidos via fone", diz Mauricélia.

Mesmo tendo que adequar a capacidade de atendimento à nova demanda, quando muitos não estavam preparados para isso, os produtores estão motivados diante da sinalização de um despertar para a importância do consumo de alimentos produzidos de uma forma mais harmoniosa com a natureza, livres de agrotóxicos e outros produtos químicos que prejudicam o ambiente e a saúde humana. 

Os agricultores familiares acreditam que este movimento ampliado em um momento de grave crise de saúde pública tende a fortalecer não somente a imunidade dos consumidores frente às ameaças do coronavírus, mas também, as cadeias produtivas locais que há tempos desejam esse tipo de reconhecimento da sociedade para os benefícios da agroecologia.

Todos os feirantes estão usando máscaras, aquele feirante que mexe com dinheiro, recebe dinheiro, faz troco, não manipula alimentos, não entrega alimentos. No começo da crise, muitos restaurantes deixaram de comprar alimentos por causa das medidas de restrição no combate ao coronavírus. E, para não perderem as vendas, os produtores se reuniram e criaram um sistema delivery para o consumidor final.

“(A conta) muitas vezes não chega a fechar 100%, mas tem ajudado muito, principalmente para escoar as coisas, porque a produção continua igual, para garantir que continue tendo os produtos”, explica a Socorro Lino.

No povoado da Fazenda Nova Jatobá, território Quilombola, localizado em Curaçá, Bahia, a produção de orgânicos se resume a macaxeira. Existe a expectativa de ampliar a produção para outros itens ainda este ano.

O agricultor Reginaldo Andrade Coelho cuida do cultivo da terra na Horta Comunitária Sol Nascente, localizada no terreno da Escola Otacilio Nunes, em Petrolina, bairro Areia Branca e diz que "o momento é de trabalho. Não há tempo para lamentar. Por incrível que possa parecer. Aqui só agradecemos a riqueza que vem da terra. Tudo passa. Tempos melhores virão", finaliza Reginaldo.

Redação redeGN Fotos Ney Vital