Documentos relatam espionagem a Bolsonaro durante ditadura

Após denunciar os baixos salários pagos a militares durante a ditadura, o então capitão Jair Bolsonaro e a família dele passaram a ser espionados pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), que seguiu os passos do atual candidato à Presidência por anos. Como divulgado pelo O Globo, em 1986, o deputado escreveu o artigo "O salário está baixo", no qual reclama dos rendimentos dos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Quando optou por publicar o texto, Bolsonaro sabia que estava desafiando o sistema e temia que a sua carreira fosse “seriamente ameaçada”.

O artigo escrito pelo presidenciável ainda foi usado por partidos como PCB e PCdoB para mobilizar suas bases contra o Exército. Um dossiê de 1989, com 37 páginas, reúne informes do SNI sobre o caso. Atualmente, os documentos integram o acervo do Arquivo Nacional e estão disponíveis para consulta pública desde 2012. Na época, o prontuário 097160-08, que documentou diversos momentos da vida do militar entre 1986 e 1989, foi classificado como "secreto". O primeiro registro é sobre o artigo, que, aliás, resultou em 15 dias de detenção para Bolsonaro.

Em outubro de 1987, Bolsonaro voltou a aparecer na revista em uma reportagem na qual contava sobre um plano para colocar bombas em quartéis. Esse episódio teve mais consequências para o capitão.Ainda de acordo com o site, o dossiê menciona um estudo produzido no Comando do Exército, em novembro de 1987, que considerou “que as averiguações realizadas não conseguiram elidir a dúvida que paira sobre a conduta do nominado (Bolsonaro). Embora não existam elementos para a abertura de IPM (indícios de crime militar)”. Ele negou ter dado a entrevista, mas o comando sugeriu a abertura de uma investigação.

Mesmo após julgado o caso, o SNI não parou de vigiá-lo. O dossiê possui anotação que dizem que Bolsonaro ameaçava processar o ministro Leônidas Pires, comandante do Exército, relatam encontros dele com o ex-presidente João Figueiredo e detalhes da sua campanha para vereador, além de apontar quem frequentava a casa do deputado. A última anotação é datada de julho de 1989.

Fonte: O Globo