A quarta etapa do curso que estuda e interpreta a bíblia na visão do Semiárido brasileiro, que aconteceu no período de 05 a 10 desse mês, na localidade de Timbaúba dos Marinheiros, região de Fortaleza (CE), culminou com a formação de 26 participantes dessa Escola. O estudo tem como objetivo inserir a realidade do povo do sertão dentro dos textos bíblicos, especialmente no tocante à luta pela “Terra Prometida” e a formação da nação de Israel em diferentes momentos.
A Escola Bíblica na Ótica do Semiárido, ocorreu em um total de quatro etapas e contou com a participação de padres, freiras, agentes pastorais, lideranças populares e membros de organizações da sociedade civil que discutem e promovem ações de desenvolvimento social e produtivo, especialmente no Estado do Ceará.
O Curso foi promovido pelo Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), Associação dos Missionários do Nordeste (AMINE) e pelo Irpaa, que ministrou boa parte da formação levando discussões sobre a realidade do Semiárido na perspectiva do Clima e da Água, da Terra, Produção, Educação e Comunicação. O colaborador da instituição e teólogo João Gnadlinger, mostrou muitos elementos que ligam a vida do povo do Semiárido como a vida do povo de Deus narrados na bíblia, a exemplo das lutas e enfrentamentos das injustiças, da conquista da terra e das formas de produzir, criar animais e ter acesso a água em uma região também de clima semiárido. Outras temáticas como a presença das mulheres em momentos históricos e as denúncias feitas pelos profetas para libertar o povo explorado, também foram estudados nessa formação.
Nesse último módulo da Escola, muitos participantes apresentaram relatos de como os textos bíblicos serviram de reflexões e ações em suas comunidades de base como nos assentamentos de reforma agrária, comunidades rurais, grupos de jovens e mulheres ou nas periferias das cidades. Na região do Vale do Jaguaribe, onde muitas famílias sofrem sem água às margens dos canais e adutoras que levam água para a produção de camarão e plantio de monocultivos, as comunidades animadas pela fé pressionaram os órgãos de gestão hídrica a fornecer água para as localidades desabastecidas.
Em outras localidades, as mulheres oprimidas pelo machismo começaram a discutir seu papel e sua importância na família e em outros espaços sociais. As histórias de reflexão bíblicas sempre sugeriam as ações e mobilizações trazidas e vivenciadas pelos/as participantes de diversas regiões do Ceará, o que animou muito os idealizadores da escola.
É importante lembrar que a Escola não se limitou somente às leituras e reflexões ao longo de sua formação. As/os participantes conheceram também a realidade de famílias que vivem em assentamentos e em comunidades quilombolas que existem na região. Por sinal, um dos momentos mais marcantes nesta edição em particular, ficou por conta de uma visita à comunidade de Alto Alegre, um povoado quilombola com muitas histórias e que foi formado a partir de união de um escravo fugitivo e uma índia em meados do século XVIII. Os/as participantes também conheceram e discutiram bastante a realidade dos pescadores/as do Ceará, dos Fundos de Pastos e outros povos tradicionais que vivem no Semiárido.
Ao concluir a Escola, as/os participantes analisaram o quanto suas missões serão desafiadoras nesse momento em que o povo tem seus direitos básicos negados por um modelo de desenvolvimento voltado para os interesses dos ricos que estão destruindo os solos, as fontes de água e a natureza: dons de Deus que provém a vida e que devem ser defendidos, tendo também a luz da bíblia como importante guia nessas caminhadas e lutas.
Raimundo Fábio Foto: João Gnadlinger
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