ARTIGO – A CRISE NACIONAL E O FEIJÃO

Em tempos de crise política e econômica, é mais do que natural que a tendência das reações emotivas e o grau de preocupações das pessoas, em geral, são fatores que convergem para abalar o nível de confiança, alterando, assim, as expectativas positivas quanto ao futuro, o qual se apresenta cada vez mais incerto.

A recessão econômica em um país provoca estragos de grandes consequências à sua população, às vezes irremediáveis, desestruturando as famílias e produzindo dramas pessoais de grande intensidade, principalmente quando motivados pelo desemprego. Esse é o momento mais cruel e que deixa o chefe de família literalmente impotente, porque dele depende o sustento das despesas da casa, como alimentação, saúde, educação, transporte, moradia, além daquelas extras e imprevisíveis. O abatimento e a frustração, nessas circunstâncias, conduzem profissionais qualificados e de formação a se submeterem ao subemprego, porque o grau da responsabilidade familiar fala mais alto do que as vaidades individuais.

Enquanto isso, em paralelo, é doloroso ver o país convivendo com uma crise política inusitada na sua história, cujas causas estão fundamentadas no deplorável desvio de conduta dos principais atores deste cenário, e dos seus coadjuvantes, os quais não estabelecem como meta principal o bem-estar da sociedade e o fortalecimento das instituições que representam, porque a prioridade maior é o criminoso enriquecimento pessoal ilícito.

Como se não bastassem os fatos acima para afetar o ânimo do brasileiro, temos uma Seleção brasileira de futebol, que sempre deu alegrias ao cidadão, já há algum tempo dando só vexames e decepções. Jogando um futebol de quinta categoria, e ridículo para as nossas tradições, não consegue nem passar a primeira etapa da Copa América! E não venham falar em falta de estrutura porque esta tem de sobra, incluindo até Helicóptero e Jatinho à disposição do Presidente da CBF, dentre muitas outras mordomias, num país com tão graves dificuldades...!

Como a criatividade do brasileiro é uma marca incontestável na hora de disfarçar as suas angústias, o brasileiro resolveu criar piadas pelas redes sociais, fazendo humor com a alta de 40% no preço do kg do feijão, item básico na mesa de todos! Só não entendo o motivo dessa alta, visto que em outubro/2015 a Presidente Dilma doou 625,4 toneladas de feijão (site: conab.gov.br), para o “Programa de Doação Humanitária de Alimentos do Brasil à República de CUBA”! Claro, um gesto muito bonito de humanidade e há uma Lei 12.429/2011 que ampara essa generosidade ao país amigo. Mas, se há um estoque regulador do governo, por que ele não é utilizado como forma de controlar as oscilações do mercado, protegendo, assim, o consumidor interno? Pelo menos, o feijão virou a vedete nacional!

O que torna a situação mais dolorosa é se constatar a falta de uma saída alternativa para o eleitor, uma vez que o universo político nacional está infestado por políticos denunciados de toda forma pelo envolvimento nas bandalheiras e falcatruas atualmente existentes, não importando se eles são da Oposição ou Situação! Parece algo surreal, impensável, coisa de outro planeta, imaginar-se que as principais figuras que estão envolvidas nessas delações, são ocupantes ou ex ocupantes dos mais representativos cargos da República...! Ufa... sobraria quem, neste quadro político? Essa é uma realidade triste e desoladora, porque não se forma uma geração de políticos da noite para o dia para começar tudo de novo, e que seja detentora das qualidades indispensáveis ao desempenho íntegro e confiável da função pública!

Há pouco tínhamos um governo imobilizado pelas condições de ingovernabilidade que ele próprio construiu, e que conduziu a economia ao estado recessivo atual, além de maculado pelo descrédito de tantos parceiros sujos da sua base partidária. Agora, estamos diante de um governo interino estigmatizado pela insegurança de sua continuidade ou não, e assim impossibilitado de assumir as ações mais determinantes de que o país precisa para retomar o seu ritmo de normalidade e trabalho. Ademais, quando se esperava ser este um governo novo e depurado em todos os sentidos, logo se viu que o DNA contaminado do anterior se manteve inalterável em muitos setores da equipe, principalmente porque persistem nas nomeações as mesmas práticas suspeitas nas concessões de cargos em troca do apoio partidário.

No meio desta vulnerabilidade institucional e do mar de lama à sua volta, fica o povo brasileiro, que agora está vendo passar ao largo até um velho conhecido da sua mesa: o bom e nutritivo FEIJÃO!

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).