No Dia Mundial da Água, celebrado neste 22 de março, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) reforça a urgência de ações integradas para preservar um dos mais importantes cursos d’água do Brasil.
Em meio a crises hídricas, conflitos de uso e pressões climáticas, líderes do Comitê destacam prioridades para garantir a sobrevivência do Velho Chico e das milhões de pessoas que dependem dele.
Para o presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, a data simboliza um alerta global. “A água é a base da existência, mas enfrentamos escassez, poluição e disputas que exigem políticas públicas urgentes”.
E ele lista os principais problemas. “Poluição por esgoto não tratado em rios e afluentes; conflitos entre setores como agricultura, energia e comunidades são agravados pelas mudanças climáticas; falta de acesso à água potável para populações ribeirinhas, mesmo em 2025. Não há ‘Plano B’ para o São Francisco. Revitalizá-lo é um imperativo de sobrevivência”, afirma Oliveira, destacando a necessidade de tratar a água como prioridade de Estado.
O CBHSF atua em diversas frentes, dentre elas a recuperação de nascentes e matas ciliares visando garantir vazão; incentivo à agroecologia e saneamento rural com tecnologias acessíveis; e mediação de conflitos entre usuários, assegurando equilíbrio entre abastecimento humano, irrigação e geração de energia. Porém, “nenhum uso deve prevalecer sobre outro. A harmonia é essencial”, reforça Oliveira.
O coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar, destaca avanços. “O Comitê financiou 116 planos municipais de saneamento. Há quatro anos apenas um de 505 municípios era totalmente saneados, hoje são 12 municípios. Embora o processo seja lento, temos avançado, mas ainda falta muito. No quesito acesso à água, a construção de barragens subterrâneas aliada a técnicas de recarga hídrica em áreas como Jaguarari, na Bahia, tem cumprido o papel de garantir o aumento da água para agricultura familiar. Isso mostra que é possível e a colaboração entre esferas de governo é vital. Sem união, não há solução”, ressalta Ademar.
No Médio São Francisco, o coordenador da Câmara Consultiva Regional, Ednaldo Campos, alerta para a redução do Aquífero Urucuia, vital para a vazão do rio. “Temos acompanhado ações de monitoramento para mitigar conflitos, mas o alerta precisa ser feito quanto à redução dos aquíferos, especialmente o Urucuia que responde pela maior parte do aporte hídrico do Rio São Francisco. Com isso, quero reforçar que a educação ambiental contínua é o caminho para diminuir a pressão sobre nossos sistemas ambientais. Também penso que a criação de uma Câmara Técnica de mediação de conflitos no âmbito do CBHSF deve se fazer preponderante considerando que a tendência é só de aumento pelo acesso à água. Quando a escassez afeta a todos, precisamos de dados técnicos e políticas baseadas em ciência”, defende Campos que ainda lembra; “hoje os produtores usam técnicas de conservação do solo como curvas de nível e plantio direto que contribuem, mas ainda é necessário aumentar as áreas de recarga do aquífero, senão o cenário será cada vez pior”.
Chamado à Ação: União pelo Velho Chico
A diretoria colegiada converge em um apelo que diz respeito ao Pacto pelas Águas com gestão integrada entre União, estados e municípios, investimento em tecnologia para monitoramento e participação social e educação ambiental como prioridade transversal, envolvendo jovens e comunidades.
“A COP30 e outros fóruns globais precisam incluir a gestão hídrica. Sem água, não há vida. E neste Dia Mundial da Água, o CBHSF convoca sociedade, governos e setor produtivo a transformar discursos em ações”, concluiu o presidente do CBHSF.
O coordenador da CCR Baixo, Anivaldo Miranda destaca que na região mais de 80% da biodiversidade aquática já desapareceu, e os desafios se acumulam. “Poluição, a parte baixa do rio sofre com contaminação por esgoto e resíduos industriais, salinização, avança na região da foz, ameaçando ecossistemas e atividades pesqueiras, destruição de manguezais, substituídos por carcinicultura (criação de camarões), prática que introduz espécies exóticas e doenças, além de devastar berçários naturais, turismo predatório que avança sobre áreas sensíveis, como os cânions do São Francisco, sem planejamento ou controle”, lista.
Para Anivaldo, os problemas ficam ainda mais graves considerando a inércia do poder público. “Enquanto isso, o Congresso Brasileiro, com sua composição conservadora, ameaça desmontar conquistas históricas. O chamado ‘pacote da destruição’ incluindo projetos como o PL 4.546, que fragiliza o Sistema Nacional de Recursos Hídricos e coloca em risco políticas públicas construídas ao longo de décadas. É urgente pressionar parlamentares para que assumam suas responsabilidades. Neste Dia Mundial da Água, o apelo é claro: mobilizar a base da sociedade para garantir presença marcante na COP30, conferência climática que ocorrerá em Belém – PA. Embora o aquecimento global domine a pauta internacional, a gestão hídrica não pode ser negligenciada. Desmatamento, mudanças no regime de chuvas e degradação de ecossistemas estão interligados. Sem água, não há solução para a crise climática”.
Ele conclui: “Não há Plano B. A ideia de que recursos naturais são inesgotáveis sustenta um modelo de produção e consumo insustentável. Já precisaríamos de três planetas Terra para manter o ritmo atual de exploração. Fantasias como colonizar Marte são distrações perigosas: nosso único lar é este ‘planetinha azul’, e cuidar dele exige mudanças radicais”.
CHBSF Foto Juciana Cavalcante
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