Das 122 zonas eleitorais do estado, 42 são lideradas por mulheres

As mulheres representam 55,4% da força de trabalho da Justiça Eleitoral de Pernambuco e, neste mês de março, em celebração ao Mês da Mulher, o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) destaca os desafios que as chefes dos cartórios eleitorais enfrentam para garantir o exercício da democracia.

Atualmente, das 122 zonas eleitorais do estado, 42 são lideradas por mulheres. Além dos cargos em cartórios, a força feminina também está à frente de quatro das dez Centrais de Atendimento ao Eleitor (CAEs) do Tribunal.

Cada cartório eleitoral atua em uma zona eleitoral, abrangendo um ou mais municípios, e o papel de quem o conduz é essencial para o funcionamento regular da Justiça Eleitoral. Responsáveis por planejar e coordenar as atividades judiciais, administrativas e operacionais dos cartórios, esses profissionais são fundamentais para garantir a organização e a transparência das eleições, principalmente, as municipais.

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Durante o período eleitoral, a rotina se intensifica. As chefes dos cartórios supervisionam a preparação das urnas eletrônicas, garantem a distribuição de materiais para os locais de votação e coordenam a apuração dos votos. Após as eleições, ainda lidam com eventuais processos de prestação de contas e com a diplomação dos candidatos eleitos. 

Elas consideram o período das eleições, sobretudo o dia do pleito, o momento mais desafiador e marcante para o cargo. “É o dia em que trabalhamos por mais horas seguidas, então bate o cansaço, misturado com a preocupação para que dê tudo certo. E, além disso, passamos por situações de estresse com eleitores, advogados e partidos, pois todos os ânimos estão bastante exaltados no dia das eleições”, ressaltou Priscila Araújo, que lidera a 71ª Zona Eleitoral (Serra Talhada).   

Múltiplas Tarefas - O trabalho de um chefe de cartório vai muito além do pleito e exige conhecimento técnico, organização e comprometimento por envolver a aplicação da legislação eleitoral e o uso de sistemas informatizados para garantir a lisura do processo democrático. Por isso, esses profissionais são peças-chave para que o eleitor exerça seu direito ao voto de forma segura e confiável. 

Para Maiara Rocha, que está há duas eleições como chefe de cartório da 133ª ZE, localizada no município sertanejo de Trindade, o maior desafio na função de chefe de cartório é justamente o de gerenciar a quantidade de responsabilidades. “Somos múltiplas tarefas”, resume. “A gente faz todo o processo de atendimento ao eleitor, suporte à candidatura, além dos demais sistemas do TRE-PE, que nós, como chefe, temos que estar a par de todos eles. Então, um dos maiores desafios é conseguir absorver toda essa demanda e prestar o serviço com a maior agilidade possível”, concluiu. 

Priscila Araújo é servidora do TRE desde 2014 e já tem uma longa experiência em eleições. Ela tem liderado o cartório eleitoral da 71ª ZE, município de Serra Talhada, há cinco eleições. Priscila relata que as atividades dos cartórios eleitorais são muito diversas: ora tratam de título de eleitor, ora de processos judiciais e, em outro momento, já estão organizando locais de votação e dando treinamento para mesários. Muita correria. Mas, diante desse aspecto multifacetado do cartório, ela ressalta que planeja tornar seu trabalho ainda mais eficiente a cada eleição e sempre registra o que pode ser aperfeiçoado para melhorar o trabalho no próximo pleito. 

Equidade é o caminho - Assim como na liderança dos cartórios, as mulheres vêm ocupando significativamente cargos de chefia em outros âmbitos do Poder Judiciário, mas os números apontam que ainda falta muito para haver equidade de gênero nas posições de liderança, sobretudo quando incluímos o recorte racial. Os dados do Relatório de Participação Feminina da Magistratura do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 2023 mostram que 47% dos cargos de confiança ou função comissionada na Justiça Eleitoral são ocupados por mulheres. Em contrapartida, o Diagnóstico Étnico-Racial do Poder Judiciário, do CNJ, do mesmo ano, mostrou que as servidoras negras ocupam apenas 21,9% dos cargos de chefia.

“Vim de uma família de mulheres negras que romperam com as opressões de raça e gênero para assumirem o protagonismo de suas próprias histórias. Elas transformaram não apenas suas vidas, mas o destino de toda nossa família. Hoje, ocupo este espaço porque elas construíram esse caminho e isso me motiva a seguir a carreira de liderança, para existir mais representatividade de mulheres negras em lugares que historicamente são excluídas. Então, meus maiores desafios foram romper barreiras sociais e sistêmicas para ocupar este espaço, além de constantemente demonstrar e afirmar minha competência, uma vez que há socialmente um sentimento de que mulheres negras não pertencem a posições de poder”,  destacou Luciana Azevedo, chefe do cartório da 54ª Zona Eleitoral (Brejo da Madre de Deus).

Elas fortalecem a democracia - Outro desafio que elas enfrentam é o de reafirmar a confiabilidade do processo eleitoral frente às fake news em relação a legitimidade das eleições. Há quase duas décadas Soleany Martins, chefe do cartório da 14ª ZE (Moreno), tem atuado no processo eleitoral e, pela sua experiência, sabe o quanto é seguro e confiável. Ela conta que preza pela qualidade e lisura do processo eleitoral, pois há uma legislação a cumprir. “Há toda uma equipe envolvida se dedicando da forma mais empenhada e responsável possível, porém, trabalhar com questões que colocam em dúvida nosso trabalho sem motivos plausíveis prejudica a execução do processo”, pontuou Soleany. 

“Eu gosto muito de realizar eleição, é satisfatório entregar um resultado democrático. Apesar de todos os desafios, há uma sensação de dever cumprido com a democracia e a sociedade. Só é possível entregar uma eleição devido à grande equipe que se forma no período eleitoral, são as pessoas que se dedicam e fazem acontecer. Também acredito cada vez mais no uso da tecnologia e sistemas nos auxiliando no processo para que tenhamos resultados mais rápidos e seguros”, continuou.

Seja como mesárias, fiscais, técnicas ou gestoras do processo eleitoral, a presença feminina fortalece a transparência, a organização e o exercício do voto, assegurando que cada cidadã e cidadão exerça seu direito de escolha de maneira livre e segura. Além disso, a atuação das mulheres reforça a importância da equidade de gênero na esfera pública, incentivando a participação feminina nos cargos de liderança. Ao ocuparem esses espaços, elas não apenas contribuem para a realização de eleições justas, mas também inspiram novas gerações a se envolverem na construção de uma sociedade mais representativa e democrática.


 

TRE PE