Artigo: Maciel Melo. O Caboclo Sonhador

Na estrada sertaneja existem caboclos e caboclos. Uns são vencidos pelos garranchos que arranham pensamentos, outros, como bem diz o poeta de Iguaraci-PE, são caboclos que entre o cascalho separa os espinhos e não esquece que mesmo os caminhos sendo difíceis pra danar, o sertanejo tem que ser sonhador.

Maciel Melo, como diz o jornalista e escritor José Teles: "...não é apenas um cantor e compositor que recriou o forró nos anos 1990, é hoje uma referência da música nordestina, cuja estrutura revolucionou a partir do xote - Caboclo Sonhador". 

No ano 1989 por meio do disco vinil intitulado "Desafio das Léguas", o poeta já tinha a certeza de que o caminho à ser percorrido não seria fácil, mas o sonhador com participações de Xangai, Dominguinhos, Vital Farias e Décio Marques sinalizou ser ousado e destemido para enfrentar os tortuosos desafios. 

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E lá foi o caboclo em busca de seu sonho. Como nordestino foi parar em São Paulo. No meio da agitação de avenidas, ruas e esquinas, edifícios e calçadas, antenas e outdoors, cruzamentos e veículos, gente que vai, gente que vem, chaminés e fumaça, pouco verde, céu cinzento, vitrines, trabalho e capital, tempo e vento, garoa e entardecer, sol e chuva, múltiplas raças, mistura de povos, línguas e de cores, entre tantos bairros, tantos destinos, uns nobres, outros pobres, uns que comem, outros de fome, uns de lama, outros de asfalto, mas todos irmãos, pois filhos de Deus, foi assim, rodeado de montanhas de concretos, carros, buzinas, milhares de anônimos e sob a nuvem poluição que a tristeza e a mesquinha solidão invadiu seu coração, e, diante da saudade infinita de seu rincão e de sua família, o poeta, então, escreveu para o mundo a canção "Caboclo Sonhador".

Foi assim, assim mesmo, que do coração da megametrópole o poeta marcoliniano soltou sua voz e cantou: 
Sou um caboclo sonhador / Meu senhor, viu? / Não queira mudar meu verso / Se é assim não tem conversa / E meu regresso para o brejo / Diminui a minha reza / Um coração tão sertanejo /  Vejam como anda plangente o meu olhar /Mergulhado nos becos do meu passado / Perdido na imensidão desse lugar /  Ao lembrar-me das bravuras de Nenem / Perguntar-me a todo instante por Baía / Mega e Quinha como vão? tá tudo bem? / Meu canto é tanto quanto canta o sabiá /  Sou devoto de Padim Ciço Romão / Sou tiete do nosso Rei do Cangaço / E em meu regaço fulminado em pensamentos / Em meu rebento sedento eu quero chegar / Deixem que eu cante cantigas de ninar / Abram alas para um novo cantador  /Deixem meu verso passar na avenida / Num forrofiádo tão da bexiga de bom".

 Canta Maciel, cante seus sonhos, nossos sertões, nosso povo, cante, pois precisamos do canto!

Onaldo Queiroga-é escritor, Juiz, Desembargador do Tribunal de Justiça da Paraiba

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