Artigo - MARATONEIROS DA ORLA FLUVIAL! Publicado no Jornal de Juazeiro, 17 de setembro 1999

Sempre tenho dito que Juazeiro tem de tudo; é realmente uma universidade. Poetas, historiadores, imortais, biriteiros, etc. Imaginem que até o Manicão se diz ser galã de cinema e bom cantor romântico...! As universidades de Sorbone e de Coimbra têm réplica nesta cidade ribeirinha, cheia de casos e causos!

A caqueluche do momento são os maratoneiros que madrugam, (com medo de morte súbita) fazendo a largada do Zé do Caldo, próximo ao Arco do Triunfo, do “rico” guloso Valdecy, visando à raia, na APAE. Buchudos de chopp e de preguiça, velhos, novos, doidos, maníacos de rádio portátil e celular, empresários, médicos, rezadeiras, fofoqueiros, enfim, querem ser jovens e fazem o máximo para controlar o relógio (coração) e combater o colesterol.

Inúmeros atletas que se destacam: Alvaro Santos Lisboa (nobre da família Lisboa de Portugal), Zé Arrombado, Dirley Cunha Borges, Bernardo, Dr. Ailton Gonçalves, Dr. Ailton Alencar e muitos outros gigantes que serão escolhidos pelo Magno Mestre em Educação Física, Inácio (Mão de Onça) com vistas às Olimpíadas Internacionais.

Nas célebres caminhadas ouve-se de tudo, pois a mente de todos está fresca; portanto, momentos propícios para descontração, mentirinhas e fofocas. Elegem-se vereadores e prefeitos sem corrupção, sem compra de votos.    “Quem é aquele que se destampa todo camuflado de boné, cobrindo o rosto, envergado em macacão furta-cor...? Será o Aparício Santos...? Mister M...?” – assombrou-se Pedro Araújo, construtor e de – rancho de Gabriel, este bom vendedor de veículos (só fazem Cooper juntos). De repente aparece um doido com um  quadro de santo colocado ao peito e diz: “É o Zé  Arrombado”;   todos  sorriem...!     De   fato  é o Zé munido de  gravador, lápis e papel para anotar tudo que se passa (quer o lugar de Alixandrino, no Jornal  A tarde). Rezadeiras com rosários de rolimãs e dedeiras para aliviar os dedos de tanto rezarem! “Fechem a boca da meditação, senão os segredos serão descobertos.” Zé Arrombado sabe leitura labial e escondam o rosário; ele vem ali cochichando com algumas pessoas. O Zé, nosso amigo do peito, graças a Deus é carismático, pretendente a Ministro da Palavra. Não perde uma novena e a missa de terça-feira, às 17:00h, na Catedral, onde disputa com seu Olegário, este quem coloca primeiro o óbolo na caixa das ofertas na hora do ofertório. Aleluia...! Há corredores de cem metros rasos que fazem apostas. Outro dia dois imprudentes não juntaram as “botas”, morreram, por causa dos médicos (colegas de Cooper); deram a morredeira, sendo salvos pelos médicos (pronto socorro móvel), que deram um carão nos avexados metidos a corredores de velocidade...! Medicina em primeiro lugar...! Não admitimos abusos nos exercícios...! Somos responsáveis pela saúde de todos...!

As rezadeiras de vez em quando deixam o rosário tirar faísca no asfalto, face ao seu comprimento e, de cabeça baixa só meditando no meio da escuridão trombam-se com os atletas, porém, logo logo, o laudo da colisão é fornecido pelo Dr. Dirley, diretor da Ciretran, que concilia as partes do trabalho é juntar as esferas do rosário e Manicão nunca auxiliou, alegando dores na coluna.

O atleta Gabriel, com seu boné quebrado à esquerda, antes do nascer do sol, já se faz presente na avenida, Adolfo Viana. “O dólar subiu...! o dólar subiu...! Mas, meus preços estão os mesmos; pode me telefonar que eu tenho dois carros zero, bem baratinho. Vender barato, é comigo mesmo...! Faço qualquer negócio tal qual seu Salim, árabe da Escolinha do Barulho...!” Todos nós temos que ouvi-lo, atentamente e, Gabriel tem se dado bem; é um grande vencedor; a máquina de calcular traz no bolso da bermuda, ou debaixo do boné, virado à esquerda, igual a Golias, da Praça é Nossa...!

Apesar das gordurinhas, (Arvoredo), Álvaro da Brahma, hoje, juiz classista, filho da nobreza portuguesa, conta farrombas: “Não me troco por esses jovens; tenho resistência física: como banana da prata batida com rapadura e mel de abelha puro, que Airton Libório me traz de Remanso...! minha largada é do Country Club e, saio às 03h, da madrugada, pergunte ao coronel Geraldo...!” De fato o nobre da família real (seu diploma de nobreza está no quadro) é madrugueiro e faz o percurso do Country até o Angari; entretanto, por coincidência ou não, tem como companheiros de jornada, Dr. Ailton Gonçalves, Ailton Alencar, médicos dos atletas, não se esquecendo também de um laboratorista que na retaguarda, junto a um enfermeiro, transportam uma padiola, esperando por um eventual chilique, que até agora não houve, graças a Deus!

O Cooper é organizado: Dr. Dirley não permite contramão, mas não pode impedir as colisões das rezadeiras de olhos fechados e de cabeça baixa quando meditam os mistérios gasosos, dolorosos e gloriosos de conformidade com o dia. Certa feita um estranho ao passar pelas rezadeiras, estas, em meditação alta, no momento do Creio em Deus Pai, (o encardido Exu baixou no corpo de um desconhecido que fez patimunhas) - ainda estava escuro - que muitos maratoneiros, mesmo os valentes, foram parar perto de Curaçá, deixando cair os porretes e bengalas que se defendem dos cachorros e dos perturbadores!

Cabra macho foi o Dr. Dirley que não temeu a ação dos bandidos, de “pau de fogo” em punho, querendo o relógio de ouro do nosso diretor. De viva voz proclamou: “Sou das bandas do Tanquinho e da Rancharia, vagabundos...!” De bastão na mão esquerda (tem medo de mordida de cachorro) e grudado ao “trabuco”, não deu vez aos malandros que bateram em retirada. Foi consagrado o herói do Cooper, valente...!”.

Nossas caminhadas são sadias, onde todos se conhecem; verdadeiros escoteiros...! Sempre alerta...! Um por todos e todos por um...! Zé Arrombado que agora é católico praticante, talvez levado à Igreja por Dr. Ailton Gonçalves, que é amante da Eucaristia, em vez de responder bom dia ao ser salvado pelos colegas, responde: Deus o abençoe e te guarde, fazendo o sinal da cruz na testa de alguns hereges que professam doutrinas contrárias aos dogmas da Igreja.

César Cão do M e Valdecy, dublês de comerciante e policial “não gostam de cabra safado” e ao observarem corpos estranhos que tentam se infiltrar no meio dos madrugueiros, deixam prontos (bebidas de graça) e dão um sopro nos ouvidos das vítimas que vão parar na curva do Juca Bom Bar...! Quem faz Cooper precisa de tranquilidade e não quer saber de porre de cachaceiros...!

Muitos já foram exorcizados pelas beatas ambulantes (rezadeiras) e hoje até se propõem a ser carismáticos. Somos todos abençoados, graças a Deus e as forças das meditações das rezadeiras atletas...!

 Estamos sabendo que muitos candidatos a vereador e a prefeito querem se incorporar aos “resistentes” corredores de fundo, na Orla Fluvial. O interesse deles é serem abençoados pela padroeira da comunidade de São Francisco; professora Perpétua, missionária de Jesus! Padroeira que sai do Country Club para a caminhada com a Bíblia na mão, lendo os salmos e versículos. O Dr. Dirley - do Detran - pede que os fiéis rezem, porém, deixem o tráfego livre.

Geraldo Dias de Andrade é Cel. PM\RR – Cronista – Bel. em Direito – Membro da Academia Juazeirense de Letras – Escritor – Membro da ABI\Regional Norte.