Março é reconhecidamente o Mês da Mulher, quando muitas ações em torno dessa pauta ganham visibilidade e atualizações em várias frentes: carreira, saúde, empreendedorismo, maternidade e poder de consumo.
Para além do contexto histórico que originou o dia 8 de março, é importante refletir não apenas sobre os desafios persistentes que enfrentamos na busca pela igualdade de gênero, especialmente nos altos escalões executivos, mas sobretudo sobre as conquistas das mulheres em nosso país.
É imperativo abordar o tema da liderança feminina no Brasil, destacando os resultados positivos e as potencialidades que elas trazem para o mundo dos negócios.
É inegável o impacto positivo que as líderes femininas têm demonstrado em suas organizações. O estudo "Impacto da Presença Feminina na Gestão e nos Negócios: Por que a Mudança é Vital para o Sucesso Empresarial", divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), no último ano, destaca que os benefícios advindos da liderança feminina vão além dos aspectos financeiros.
De acordo com a pesquisa, empresas que abraçam a diversidade experimentam crescimento de 10% a 15% na receita, além de perceber melhorias na capacidade de atrair e reter talentos, bem como incremento na sua reputação e imagem pública. Líderes mulheres se destacam também em relação aos seus pares masculinos, sendo consideradas mais eficazes, conforme evidenciado no relatório "Líderes Prontos-Agora", da ONG Conference Board. O estudo indica ainda que organizações que contam com pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança têm doze vezes mais chances de apresentar desempenho financeiro 20% melhores.
Outro ponto de destaque nas empresas que investem em lideranças femininas é o foco em questões de ESG (Ambiental, Social e Governança). Pesquisas como a realizada pela Fundação Getúlio Vargas revelam que 72% das empresas brasileiras que se destacam em iniciativas sustentáveis contam com, pelo menos, uma mulher em seus comitês administrativos.
Promover uma cultura organizacional sustentável implica também em valorizar e potencializar os talentos femininos, além de gerar valor para o próprio negócio. Essas ações não só podem atrair reconhecimento, mas inspirar outras lideranças. No entanto, é importante reconhecer que ainda há obstáculos a serem superados.
De acordo com o último relatório da Global Gender Gap, divulgado em 21 junho de 2023, pelo Fórum Econômico Mundial, sobre desigualdade de gênero, o Brasil subiu no ranking dos países com melhor paridade entre os gêneros, indo da 94ª posição em 2022 para a de 57ª. Na escala de 0 a 1 usada pelo estudo, o índice brasileiro está com 0,726 ponto, sendo que 1 significa nenhuma diferença entre homens e mulheres. No ano passado, o País tinha 0,696 ponto.
O índice geral é calculado como uma média simples de quatro critérios que avaliam as disparidades de gênero: participação e oportunidades econômicas (0,670), oportunidades educacionais (0,992), acesso à saúde (0,980) e empoderamentopolítico (0,263). No contexto brasileiro, observa-se pouca disparidade nos dois últimos critérios, e o País está em linha com outros 25 países nesses aspectos. No entanto, é a participação econômica das mulheres que possui maior peso na avaliação, revelando uma lacuna a ser enfrentada no Brasil.
Apesar dos avanços, ainda nos deparamos com resistências e preconceitos arraigados. Dados da Ipsos revelam que três em cada dez pessoas no Brasil ainda não se sentem confortáveis em ter uma mulher como chefe.
Como líderes femininas, temos a responsabilidade não apenas de alcançar o sucesso em nossas carreiras, mas também de abrir portas e pavimentar o caminho para as gerações futuras. Ao enfrentarmos e superarmos as barreiras que ainda existem, podemos criar um ambiente empresarial mais equitativo, inclusivo e sustentável. É crucial que continuemos a advogar pela igualdade de oportunidades e a valorizar as contribuições únicas que as mulheres trazem para a mesa.
O Relatório Global de Lacuna de Gênero de 2023 destaca o aumento da participação econômica das mulheres e a conquista da paridade de gênero na liderança, tanto nos setores empresarial quanto governamental, como estratégias primordiais para abordar as disparidades de gênero existentes nas famílias, na sociedade e nas economias. Uma ação coletiva, coordenada e ousada, e liderada pelos setores público e privado será crucial para impulsionar o progresso em direção à paridade de gênero e promover crescimento renovado e mais resiliência.
Fechar a lacuna de gênero é fundamental para garantir crescimento econômico inclusivo e sustentável. Em nível organizacional individual, a implementação de estratégias de gênero é considerada essencial para atrair os melhores talentos e garantir desempenho econômico, resiliência e sobrevivência a longo prazo. Evidências indicam que grupos diversos de líderes tendem a tomar decisões mais fundamentadas em dados, resultando em resultados de mais qualidade. Em termos econômicos, a paridade de gênero é reconhecida como crucial para a estabilidade financeira e o desempenho econômico.
À medida que celebramos o Dia Internacional da Mulher, convido a todos a refletir sobre o papel fundamental das mulheres na liderança empresarial e a trabalhar juntos para construir um futuro em que a igualdade de gênero seja realidade em todos os níveis da sociedade e do mundo corporativo.
Ellen Gonçalves é advogada, vice-presidente da Comissão Permanente de Defesa do Consumidor da OAB, CEO e sócia-fundadora do PG Advogados. É especialista em Direito do Consumidor e referência em Resolução de Conflitos e em Contencioso de Alta Complexidade. Mestre em Direito Político e Econômico, LLM em Direito Empresarial com ênfase em Direito do Consumidor. É autora de “O direito do consumidor e os juizados especiais cíveis (IOB Thomson, 2006)” e “Uma lei para todos- A história dos 30 anos do Código de Defesa do Consumidor (Atelier de Conteúdo, 2020)”.
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