Propaganda com caju que nasce invertido vira piada na web. Diferente do que aparece no vídeo, o caju fica preso à árvore pelo pedúnculo, como é chamada a parte avermelhada que representa 90% da massa do pseudofruto.
O Instituto Caju Brasil (ICB), fundado em 2018 e com sede em Fortaleza, foi um dos críticos da campanha. Uma mensagem no perfil do ICB afirmou:
“Esperamos, sinceramente, que a empresa possa corrigir o seu erro, através de campanhas compensatórias. O setor já vive diversos problemas, e ter a imagem da sua 'identidade' descaracterizada é muito triste”.
Confira ARTIGO Opinião:
Uma multinacional do ramo de cosméticos eleger o caju como protagonista de uma linha de produtos que tem apelo brasileiro é muito bacana. Mas anunciar o produto num comercial com uma atriz e modelo superfamosa que arranca a fruta de ponta-cabeça de um galho de uma árvore que não é um cajueiro me reafirma o pensamento de que, definitivamente, o Brasil não se conhece em sua imensa diversidade.
E isso vale para tudo, desde “vender” seus atrativos turísticos, até a forma de retratar paisagens, sotaques e outros aspectos regionais. O brasileiro não nordestino, e às vezes até o próprio nordestino, não só erra, como reforça estereótipos. E isso é bom para quem? Para o Brasil mesmo não.
A reprodução de um Nordeste pobre ou que só tem cactácea, ou que é só praia, ou que fala de um jeito só não ajuda na imagem, no desenvolvimento regional e nem no reconhecimento dos seus potenciais e vulnerabilidades. Nem mesmo a vulnerabilidade climática da região é reconhecida como tal quando nossos governos lidam com a política global de mudança climática. E isso se reflete na falta de apoio ao desenvolvimento sustentável regional.
Se a sua biodiversidade não é conhecida, por que será preservada? Se suas reservas hídricas não são valorizadas, por que a sua manutenção será garantida? Esta é uma reflexão rápida, suscitada por uma estratégia de comunicação infeliz, mas que mostra muito bem as consequências da falta de conhecimento para o desenvolvimento do nosso País.
Pode parecer besteira. Mas não é. Este é um ponto importante e que não pode desaparecer do horizonte diante do próximo meme. É um assunto sério e que deve ser pautado por nós em todos os espaços possíveis. Se nós não fizermos isso, quem fará? É gente, um caju não é apenas um caju. Mas tudo o que ele significa dentro e fora de contexto.
Petição nordestina reúne assinaturas para a criação do emoji do caju Agenciaeconordeste
O Nordeste é um porção importante deste País que, por vezes, não consegue se enxergar como uma unidade composta de diversidades. Pensemos a atuemos mais na valorização disto e todo mundo, certeza, sai ganhando.
*Por Maristela Crispim-é jornalista (UFC/1992) e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFC/2008). Foi professora de Marketing e Estratégias de Comunicação Ambiental no MBA em Planejamento e Gestão Ambiental na Cadeia Produtiva
Agencia Eco Nordeste Foto
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