Tabu durante muito tempo no jornalismo, o suicídio está, aos poucos, deixando de sê-lo. Num passado não muito distante, era relativamente comum “mascarar” os obituários das pessoas que tiravam a própria vida, usando eufemismos como morte inesperada, por exemplo. Nos últimos dez anos, contudo, isso vem mudando, até porque os problemas de saúde mental, não mais estigmatizados, são discutidos abertamente, algo que foi grandemente impulsionado pela pandemia de covid-19, que escancarou as mazelas trazidas pelo isolamento, como a depressão, distúrbio que conheceu um grande crescimento no período.
“O que está se percebendo é que aparece mais a possibilidade de os jornais, quando noticiam a morte de alguém por suicídio, dizer que foi um suicídio”, diz o professor Carlos Eduardo Lins da Silva. Ele observa, porém, que ainda existem alguns cuidados a serem mantidos, como o de não divulgar a maneira como se deu a morte do indivíduo, na tentativa de evitar o que se chama de “contágio de suicídio”, que poderia levar a comportamentos semelhantes, sobretudo em pessoas com problemas mentais, da mesma forma que, pelo mesmo motivo, também se evita a “glorificação do suicida”.
“É um problema complexo”, observa o colunista, “mas é interessante que esteja havendo essa mudança de comportamento, não só do jornalista, mas da sociedade em geral”. O mesmo vale para os cuidados na divulgação de massacres em escolas ou de episódios de assassinatos em massa. Nesse caso, o jornalista, embora noticiando os fatos, deve poupar o público dos detalhes usados pelo assassino para cometer seu crime, “de modo que não se dê um roteiro para que pessoas tentem fazer igual”. É outro caso em que se deve evitar a glorificação e a eventual notoriedade obtida pelo autor do crime, algo que pode estimular comportamentos semelhantes.
Carlos Eduardo Lins da Silva- professor Carlos Eduardo Lins da Silva, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
Jornal da USP
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