Quarenta anos separam os assassinatos de Margarida Alves e Mãe Bernadete. Margarida foi morta em 83; Bernadete, em 23. E no mesmo mês – ou seja, agosto.
As duas, mulheres; as duas, nordestinas; as duas, militantes da causa social.
Margarida, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB) e líder da luta pelos direitos trabalhistas dos cortadores de cana no Brejo paraibano.
Mãe Bernadete, coordenadora nacional de articulação dos quilombolas e líder do Quilombo Pitanga, na Bahia, onde militava em defesa do seu povo e do seu território.
As duas, assassinadas violentamente a mando da truculência dos poderosos – Margarida, na frente do filho e do marido; Bernadete, na frente dos netos, enquanto cuidava deles.
E ambas, na essência, comprometidas com a mesma causa: isto é, a luta pela terra e pela justiça social.
Até quando teremos de assistir a episódios como os acima mencionados, ainda que de forma um tanto sucinta?
Sabemos ser esta uma prática comum no Brasil desde o dia em que o invasor europeu aqui pôs os seus pés.
Foi matando e expulsando os nativos que o invasor se apropriou das terras e dos bens da terra. Em outras palavras, foi pela espoliação da terra e dos bens da terra que o latifúndio nasceu, cresceu e se consolidou. Se consolidou de tal forma que hoje é responsável por uma das maiores concentrações fundiárias do planeta – dizem os números – em detrimento de uma leva cada vez maior de trabalhadores e trabalhadoras sem o acesso à terra.
E se hoje assistimos a casos como o de Margarida Alves e de Mãe Bernadete (sem falar de tantos outros Brasil afora), é porque a cultura da violência que ajudou a criar e consolidar tal estado de coisas continua mais viva do que nunca.
É inadmissível que ainda hoje se recorra à violência como mecanismo de defesa de determinados privilégios.
Os que persistem nessa prática, além de criminosos, são podres, covardes e abomináveis.
E precisam ser julgados e punidos com todos os rigores da lei.
José Gonçalves do Nascimento
Escritor
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