China flexibiliza política 'Covid zero' após protestos

Várias cidades chinesas flexibilizaram, nesta sexta-feira (2), as medidas anti-Covid que provocaram protestos em todo o país, com a aprovação do próprio presidente, Xi Jinping, que alegou que a atual onda da pandemia é "menos letal" do que as anteriores.

"Agora a epidemia na China é basicamente (da variante) Ômicron, menos letal, e (...) isso possibilita mais abertura nas restrições", disse Xi ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

As manifestações dos últimos dias para exigir o levantamento das restrições ocorrem porque as pessoas estão "frustradas", após três anos de pandemia, disse o líder chinês a Charles Michel em uma conversa na quinta-feira (1º), segundo autoridades europeias que pediram para não serem identificadas.

Funcionários do alto escalão do governo nacional sugeriram que podem amenizar a política de Covid zero.

Na quarta-feira, em um discurso para a Comissão Nacional da Saúde, a vice-primeira-ministra chinesa, Sun Chunlan, reconheceu que a variante Ômicron é menos perigosa e afirmou que a taxa de vacinação aumentou no país, segundo a agência de notícias estatal Xinhua.

A maneira de a China lidar com o vírus está "diante de novas circunstâncias", acrescentou.

Figura central na estratégia chinesa de combate à pandemia, Sun não fez nenhuma menção à política de tolerância zero à Covid-19, e deu a entender que talvez essa política possa ser suavizada.

No fim de semana passado, o descontentamento com a estratégia de saúde do governo provocou protestos de uma magnitude sem precedentes, em décadas, no país.

As autoridades chinesas reagiram rapidamente para reprimir o movimento, com um significativo destacamento policial nas ruas e vigilância reforçada nas redes sociais. Isso não impediu que houvesse manifestações esporádicas.

Após os protestos, várias cidades começaram a relaxar as restrições.

"Estamos satisfeitos que as autoridades chinesas estejam ajustando sua estratégia atual e calibrando as medidas de controle" com base em vários fatores, declarou nesta sexta-feira, em coletiva de imprensa em Genebra, o diretor de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan.

Quarentena em casa

Em tese, qualquer pessoa contaminada com Covid-19 na China deve ser isolada em um centro de quarentena.

Mas isso parece estar mudando.

Em uma análise publicada hoje pelo Diário do Povo, jornal do Partido Comunista, especialistas em saúde apoiaram as medidas anunciadas por algumas autoridades regionais para permitir que as pessoas que testam positivo para Covid façam a quarentena em casa.

Responsáveis por vários bairros do distrito de Chaoyang, em Pequim, informaram que essa medida já foi aplicada em seu setor.

A cidade industrial de Dongguan (sul) anunciou na quinta-feira que pessoas com "condições específicas" devem ser autorizadas a ficar em casa durante o isolamento. Essas condições não foram especificadas.

A megalópole tecnológica de Shenzhen (sul) começou a aplicar uma política semelhante na quarta-feira.

A partir de segunda-feira (5), os habitantes de Pequim voltarão a poder andar de ônibus ou de metrô sem ter de apresentar um resultado negativo do teste PCR de menos de 48 horas, de acordo com a assessoria do prefeito, nesta sexta.

Agora será necessário apenas um passaporte sanitário com a cor verde, que confirma que a pessoa não passou por nenhuma área de "risco elevado".

A mesma medida entrou em vigor hoje, em Chengdu (sudoeste).

Na capital, as autoridades solicitaram aos hospitais que parem de rejeitar pacientes que não apresentarem um exame PCR negativo de menos de 48 horas.

A China registrou várias mortes por atraso nos tratamentos médicos provocado pelas medidas anti-Covid. Este foi o caso de um bebê de 4 meses que faleceu recentemente pela exigência de permanecer em quarentena com o pai.

Hotéis e restaurantes

As manifestações do fim de semana passado voltaram a recordar essas mortes. Nas redes sociais, uma mensagem muito compartilhada tem uma lista de nomes de pessoas que faleceram vítimas de negligência motivada pelas restrições sanitárias.

Outras cidades, também afetadas por novos surtos de coronavírus, começaram a autorizar a reabertura de restaurantes, shoppings e escolas, e deixaram de lado as medidas severas que estavam em vigor.

Na cidade de Urumqi, capital da região de Xinjiang (noroeste), cenário de um incêndio que motivou as primeiras manifestações, as autoridades anunciaram nesta sexta-feira que supermercados, hotéis, estações de esqui e restaurantes serão reabertos de forma gradual.

R7