O desmatamento na Amazônia continua em alta. Em agosto, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registrou alertas para 1.661,02 km², um aumento de 81% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram gerados alertas de destruição para 918 km² de florestas. A cifra registrada em agosto de 2022 é a segunda maior da série histórica do INPE, quase empatada com 2019, primeiro ano do mandato de Jair Bolsonaro, quando foram registrados 1.714 km² de destruição. Os números foram atualizados nesta sexta-feira (9).
A área perdida no mês passado é maior do que a cidade de São Paulo (1.512 km²). No acumulado do ano (janeiro a agosto), já foram registrados 7.196 km² de alertas, cerca de seis vezes o tamanho da capital fluminense.
Como a taxa oficial de desmatamento anual na Amazônia, medida pelo INPE, vai de 1º de agosto de um ano a 31 de julho do ano seguinte – período chamado de “calendário do desmatamento” por ser quando os maiores registros acontecem devido às condições climáticas propícias – já dá para antecipar que o próximo mandato presidencial herdará uma conta alta.
Segundo Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, os recordes em desmatamento, associado aos crescentes índices de queimadas e crimes na Amazônia, tornam o trabalho de quem vencer as eleições para o Palácio do Planalto ainda mais difícil.
“Bolsonaro pode sair do governo, mas deixa de herança para seu sucessor uma crise ambiental na Amazônia como não se via desde os anos 1990 e uma crise social sem precedentes. O crime organizado dominou a região, e a liberação de armas para civis torna muito mais perigosa a tarefa de retomar a fiscalização e o controle do desmatamento”, disse.
Segundo ele, os possíveis sucessores de Bolsonaro, no entanto, não têm endereçado a questão com a importância que deveriam. “Isso [crise ambiental e social na Amazônia] vai demandar ação determinada e planos muito concretos, mas até agora os candidatos à sucessão de Bolsonaro têm falado muito pouco sobre como pretendem retomar o controle da região, que abarca metade do território nacional”.
Na última quarta-feira (7), levantamento realizado pelo Observatório do Clima revelou que o Ibama só executou 37% do orçamento autorizado em 2022 para prevenção de queimadas. A baixa execução coincide com uma alta de 41% da área queimada no bioma entre janeiro e julho, quando comparado com o mesmo período de 2021.
Desmatamento nos estados:
O Pará continua liderando a lista de desmatadores, com 676 km² de alertas em agosto. No acumulado do ano-calendário (agosto a julho), foram desmatados 3.072 km² de floresta no estado.
No segundo lugar no ranking do mês de agosto aparece o Mato Grosso, com 339 km² perdidos e, na terceira posição, o Amazonas, com 310 km² perdidos.
No acumulado entre agosto do ano passado e julho de 2022, no entanto, essas posições se invertem. Pela primeira vez da série histórica do INPE, o Amazonas aparece na segunda posição do ranking de desmatadores, tendo derrubado 2.292 km² de florestas, enquanto o Mato Grosso derrubou 1.433 km².
Os números mostram o avanço da destruição pela “nova fronteira do desmatamento”, que acontece pelo sul do Amazonas, na divisa com Mato Grosso e Rondônia.
A reportagem é da jornalista Cristiane Prizibisczki, Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellowship Programme (2011), com o artigo “(Mis)Informed Cities? – The urban level of climate change as reported on the pages of UK prestige press: a case study of the websites of BBC News and the Guardian”. Já trabalhou para veículos como Valor Econômico e revistas da Editora Abril (freelancer) e desde 2007 colabora para ((o))eco. Foi vencedora do Earth Journalism Awards (2009) em três categorias internacionais e do Prêmio Embrapa de Reportagem (2014).
Cristiane Prizibisczki, O Eco Jornalismo Ambiental Foto arquivo Agencia Brasil
1 comentário
10 de Sep / 2022 às 07h52
Vou consultar o INPE. Não confio em jornalistas ativistas. Nem divulgo reportagem parcial, sem o outro lado da questão.