Na próxima sexta-feira (27), a cantora Ivete Sangalo completa 50 anos de idade. A baiana de Juazeiro, no norte do estado, tem quase três décadas de carreira e se projeta para além da música. Também tem trabalhos como atriz, em novelas, filmes e seriados, além de apresentar programas de televisão. Ao juntar todas essas multifaces, ela é responsável por conduzir uma das mais bem-sucedidas trajetórias do show business no Brasil.
Os números alcançados por Ivete são impressionantes. Exemplo disso é o dvd gravado em show no Maracanã, que é o mais vendido no mundo e ultrapassa a marca de um milhão de cópias comercializadas. Inclusive, nesta gravação, ela foi a primeira brasileira a lotar o icônico estádio de futebol do Rio de Janeiro.
Muita gente (principalmente os fãs) está habituada a acompanhar momentos particulares, como nascimento dos filhos, perdas de irmãos, da mãe. Parte disso é exposto pela própria artista, que acumula mais de 55 milhões de seguidores em redes sociais.
A proximidade com o público é tão grande, que a juazeirense comumente é chamada por Veveta, Ivetinha, Mainha. São apelidos carinhosos, que revelam como esta figura é presente no imaginário da população. Ao completar meio século de vida, recebe homenagens de todo o país. Mas, afinal, porque ela é tão reverenciada?
Qual a importância de Ivete Sangalo para a Música Popular Brasileira? Este é o tema da edição #62 do podcast. Os convidados do episódio são Max Pierre, produtor musical, Wanda Chase, jornalista, e Marilda Santana, cantora e professora da Universidade Federal da Bahia.
Max Pierre é um dos maiores produtores musicais da história do mercado fonográfico brasileiro. Foi responsável por mais de 90 milhões de discos vendidos e produziu importantes nomes, como Rita Lee, Elis Regina, Jorge Benjor, Fafá de Belém, Guilherme Arantes, e, é claro, Ivete Sangalo.
Para Max, através de Ivete, sobretudo após o lançamento da carreira solo, a música baiana atingiu um patamar ainda mais elevado do que ocupava no início dos anos 2000, quando outros cantores, como Netinho e Daniela Mercury, dominavam as paradas de sucesso.
"Foi a partir de Ivete que os produtores, a grande mídia, passaram a dar mais espaço e oportunidades a outros artistas baianos, a olhar com mais atenção para o que era produzido na Bahia, que sempre foi um lugar de múltiplos talentos", disse ele, acrescentando que "se voltasse a trabalhar com gravadora, certamente procuraria por novas Ivetes" no estado.
Max integrou as gravadoras Som Livre, Sony, Polygram e Universal Music, onde foi vice-presidente e assumiu a liderança de mercado no Brasil. "Na Universal, já chegamos a ter 14 baianos em nosso casting, simultaneamente: É o Tchan, Terra Samba, Cheiro de Amor, Banda Eva, Beijo, Bom Balanço... Todos eram sucesso de vendas e público".
Para Marilda Santana, que é cantora, produtora cultural, pesquisadora e professora da Universidade Federal da Bahia, após a ascensão de Ivete, o mercado fonográfico baiano estabeleceu um modelo de padronização na estética vocal, que pode ser percebido no trabalho de cantoras que apareceram posteriormente, como Claudia Leitte, Vina Calmon (Cheiro de Amor) e Mari Antunes (Babado Novo).
"É um canto que não tem pausas, marcado pelo excesso de vibratos, com um punch muito mais forte, potente. Margareth e Daniela já traziam isso, mas Ivete, embora seja médio soprano, usa mais tonalidades de voz grave", explica.
Outro diferencial que ela destaca é a capacidade de se comunicar com o grande público em uma linguagem excessivamente coloquial, o que faz com que as pessoas se sintam próximas à ela.
"Ivete tem uma liberdade brincante. Ela traz no seu ethos, no seu jeito de ser, uma liberdade de brincar. Ela transforma, de alguma maneira, um assunto sério em um deboche. Leva a vida de uma maneira moleca, brejeira".
Entre os livros escritos por Marilda está "As donas do canto: o sucesso das estrelas-intérpretes no Carnaval de Salvador", que aborda práticas musicais e empresariais associadas ao carnaval da Bahia, tendo como ponto de partida as carreiras de Ivete Sangalo, Daniela Mercury e Margareth Menezes.
Na obra, ela menciona que “Ivete transforma a própria vida em obra de arte”, e mantém a "imagem do eu-mercadoria, que lança mão de todos os acenos no sentido de que o consumidor leve o seu produto". “A cantora de Carnaval não é mais somente cantora de Carnaval, é uma operária de sua própria divinização, zeladora permanente de seu próprio estrelato”, afirma.
A jornalista Wanda Chase acompanha há décadas os bastidores da música baiana e viu o crescimento de Ivete Sangalo desde os anos 90, quando ela ainda era só uma promessa. Com a experiência de quem já assistiu o surgimento de inúmeros artistas, a comunicadora relembra a primeira vez que viu a cantora no palco, antes mesmo da chegada na banda Eva.
"Ela se apresentava em um projeto de verão da TV Bahia, na Cidade Baixa. Ninguém a conhecia, ainda não era famosa, mas, como sempre, atraiu todos os olhares. Um mulherão, linda, dona de uma belíssima voz. Aquela energia dela que conhecemos já se fazia presente. Ali estava claro: estávamos diante de uma estrela".
A ocasião marcou a primeira de incontáveis vezes que Wanda entrevistou Ivete, inclusive em eventos no exterior. A jornalista destaca que a artista sempre reconheceu as pessoas que a ajudaram a se tornar quem é, e cita como exemplos o produtor musical Alexandre Lins, o maestro Letieres Leite, o cantor e compositor Carlos Pita, o radialista Josenel Barreto.
"Ivete sempre foi muito grata a todos que trabalham ou trabalharam com ela, e é muito generosa. Como pessoa, ela é do tipo que dá colo. Como artista, se um colega não está em um momento bom, ela chama para perto, abre portas, coloca para cima. E é essa generosidade que a torna diferente e tão especial".
G1 Bahia
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