COP26: sem citar desmatamento recorde, ministro diz que seria 'sucesso' para o Brasil obter dinheiro de países ricos

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, voltou a cobrar "financiamento robusto" de países ricos para o enfrentamento da crise climática e classificou o momento atual como uma "emergência financeira"".

Sem responder perguntas sobre o desmatamento recorde divulgado nesta nesta sexta-feira (12), Leite reuniu a imprensa no último dia da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), para apresentar um balanço positivo da participação brasileira no evento.

"Gostaria de compartilhar a preocupação do Brasil com o financiamento climático, com um volume de recursos que ainda não chegou", disse Leite, defendendo, mais uma vez, que metas climáticas mais ambiciosas vão depender de mais recursos internacionais.

--------- MATÉRIA CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE ---------
https://cafepingafogo.com.br/2022/


"Seria um sucesso para o Brasil a gente conseguir pressionar os países ricos para mais recursos, chegar a um consenso e aproveitar essa nova economia verde" - Joaquim Leite, ministro do meio ambiente

"Precisamos garantir recursos para uma transição mais justa", voltou a afirmar o ministro.

A posição do Brasil em cobrar de países desenvolvidos para financiar a conservação da floresta é uma temática recorrente no ministério do Meio Ambiente desde a gestão passada, quando Ricardo Salles esteve a frente da pasta.

"O esforço do Brasil é para conseguir recursos justamente para aqueles que vivem na floresta e precisam ser remuneradas por sua conservação", disse Salles na COP25, realizada na Espanha.

Dinheiro parado no Fundo Amazônia

Quando foi questionado sobre os R$ 3 bilhões do Fundo Amazônia que estão congelados desde 2019 - mas que deveriam ser aplicados em projetos de preservação e fiscalização do bioma, como o combate ao desmatamento - Leite respondeu que o assunto diz respeito ao vice-presidente Hamilton Mourão.

"Em relação ao Fundo Amazônia - as negociações ainda não estão em andamento, quando a gente tiver uma atualização a gente passa pra vocês”, disse o ministro.

O Fundo Amazônia, criado em 2008 para captar doações - inclusive de países europeus - para a preservação ambiental, está sem atividade desde o início do governo de Jair Bolsonaro, após o ex-ministro Ricardo Salles tentar mudar as regras do Fundo e irritar apoiadores como Alemanha e a Noruega.

Aumento do desmatamento

O ministro também não quis comentar os dados de aumento de desmatamento no Brasil divulgados nesta manhã pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), justificando que o objetivo da COP é o de negociações globais, e não os problemas de cada país.

“Aqui nós estamos falando de um desafio global e não de cada país. Nós estamos mostrando o que o Brasil tem de verdade. Não acompanhei esses números [de desmatamento do Inpe], soube que eles saíram hoje, mas eu não vi ainda”, justificou Leite.
Segundo o Inpe, outubro de 2021 na Amazônia teve o maior alerta de desmatamento para o mês já registrado pelo Instituto, com uma área de 877 km² sob alerta - um aumento de 5% aos dados de outubro 2020, que já haviam batido recorde.

Enquanto o ministro conversava com os jornalistas no pavilhão do Brasil na Conferência, jovens brasileiros protestavam nas ruas de Glasgow contra a postura de Leite nas negociações, acusando-o de "Maquiagem Verde".

Na quarta-feira (10), em seu segundo discurso na COP26, Leite defendeu a gestão Bolsonaro, cobrou os países ricos por mais recursos e afirmou para um plateia com líderes de várias nações que "onde existe muita floresta também existe muita pobreza".

G1 / foto: arquivo