O músico e compositor caruaruense Onildo Almeida, de 92 anos, vai receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) campus Caruaru, Pernambuco.
Esta honraria é concedida a pessoas que se destacaram em sua área de atuação. Por telefone, Onildo Almeida disse que recebeu a notícia com muita alegria.
"É mais uma honra para mim. É indescritível! Não esperava por isso, mas tudo o que fiz por Caruaru e para a música brasileira foi por amor", ressaltou o compositor.
A concessão do título foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário (Consuni) da UFPE. A proposta foi do Núcleo de Ciências da Vida do Centro Acadêmico do Agreste (CAA).
Quem informou a Onildo sobre o recebimento do título foi o professor e historiador José Urbano, presidente do Conselho de Cultura de Caruaru. "Eu, particularmente, estou em uma alegria muito grande. É o primeiro caruaruense que recebe o título de Doutor Honoris Causa. Fui na residência dele dar a notícia", afirmou.
José Urbano informou a provável data da entrega do título: 13 de agosto de 2021, quando Onildo irá completar 93 anos. "[Será] no campus da UFPE daqui de Caruaru. Muito merecido. A partir de agora não será o músico Onildo Almeida, mas sim Doutor Onildo É um título válido internacionalmente, reconhecido em todo lugar do mundo, a nível de doutorado".
Nascido em Caruaru, no dia 13 de agosto de 1928, o compositor Onildo Almeida orgulha-se em dizer que é filho da Capital do Agreste. Músicas do caruaruense ganharam destaque e já foram tocadas em diversos países, como Inglaterra, Portugal, Espanha, Suécia, Itália, Estados Unidos, Rússia e até a antiga Tchecoslováquia. Sobre essa conquista, Onildo já afirmou: "Eu ganhei o mundo sem sair de Caruaru".
Filho de José Francisco de Almeida e Flora Camila de Almeida, Onildo teve o apoio dos pais para seguir no caminho da música. Ainda adolescente, o compositor fez parte de grupos musicais locais, mas foi ao ingressar no rádio que ganhou notoriedade.
Ao longo da vida, o artista sempre buscou entoar nos versos de suas composições o nome da cidade natal. Uma das maiores obras dele, se não a maior, "A Feira de Caruaru", fala desde coisas comuns às mais inusitadas que são vendidas no local até os dias atuais. Na entrada da feira, que é patrimônio cultural imaterial do Brasil desde 2007, há uma estátua em homenagem ao compositor.
"Ainda que eu não queira, ela [A Feira de Caruaru] tem de ser minha maior obra. Foi a música que me puxou", Onildo Almeida.
O disco no qual está a música na voz de Luiz Gonzaga chegou a vender, entre os meses de março e maio de 1957, 100 mil cópias - o primeiro e o maior recorde musical do Nordeste até então.
“Em todas as suas ações, ele reafirma sua contribuição para o conhecimento da cultura regional [...] Portanto, pelo incansável trabalho de compositor, comunicador e divulgador da Cultura Nordestina, sobretudo através da sua música, somos favoráveis à concessão do título de Doutor Honoris Causa ao compositor Onildo Almeida", ressalta o parecer apresentado ao Consuni.
HORA DO ADEUS: Onildo Almeida conta que em 1967, o Rei do Baião o pediu para escrever uma música que representasse o fim da carreira. Segundo Onildo, Gonzaga sentia que tempo dele no cenário musical havia chegado ao fim. No início, o músico se recusou, mas fez a canção.
"Uma semana depois [do pedido de Gonzaga] fui ao Rio de Janeiro. Meus colegas de rádio de Caruaru estavam lá e nos encontramos. Luiz Queiroga, que era um deles, tirou um papel do bolso com umas palavras e disse: 'Vocês querem ver o que é talento? Onildo, coloca música nisso aí'. Quando eu abri o papel, tinham dois versos: O meu cabelo já começa prateando, mas a sanfona ainda não desafinou/ A minha voz vocês reparem eu cantando, que é a mesma voz de quando meu reinado começou. E eu fiz desses verso uma música", detalha.
Quando Onildo voltou para Caruaru, percebeu que Luiz Queiroga havia escrito poucos versos e decidiu completar a obra. "Dias depois, Luiz Gonzaga chegou perguntando se eu havia feito a música para ele. Respondi: 'disse que não faria', mas acabei mostrando 'Hora do Adeus', com os meus versos e os de Luiz Queiroga", recorda o caruaruense.
Luiz Gonzaga achou a música bonita e a gravou, mas ela não marcou o fim da carreira do pernambucano. Para Onildo, "Hora do Adeus" é uma das principais obras dele porque conta a história de Gonzaga do começo.
"É uma canção importante porque conta a história do que é, para mim, o maior nome da música popular brasileira. Gonzaga não era só cantor, era compositor e instrumentista, por isso o acho o maior. Ele mudou e despertou no governo a realidade nordestina. Deu nome ao baião, xote, xaxado, coco de roda. Ninguém queria saber da música nordestina, era música de subdesenvolvimento. Mas, por causa da música de Gonzaga, o Nordeste mudou a cara", ressalta Onildo.
Onildo Almeida foi compositor de vários outros sucessos na voz de Luiz Gonzaga, como "A Feira de Caruaru", "Capital do Agreste" e "Sanfoneiro Zé Tatu", Onde o Nordeste Garoa.
Hora do Adeus
(Onildo Almeida e Luiz Queiroga)
O meu cabelo já começa prateando
Mas a sanfona ainda não desafinou
A minha voz vocês reparem eu cantando
Que é a mesma voz de quando meu reinado começou
Modéstia à parte, é que eu não desafino
Desde o tempo de menino
Em Exu, no meu Sertão
Cantava solto que nem cigarra vadia
E é por isso que hoje em dia
Ainda sou o Rei do Baião
Eu agradeço ao povo brasileiro
Norte, Centro, Sul inteiro
Onde reinou o baião
Se eu mereci minha coroa de rei
Esta sempre eu honrei
Foi a minha obrigação
Minha sanfona, minha voz, o meu baião
Este meu chapéu de couro e também o meu gibão
Vou juntar tudo, dar de presente ao museu
É a hora do adeus
De Luiz, Rei do Baião
Redação redeGN Foto Ilustrativa
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