Cerca de 400 funcionários do BNDES promoveram no início da tarde desta sexta-feira, no térreo do edifício-sede do banco, no Rio de Janeiro, um ato em solidariedade a Gustavo Soares, demitido recentemente da área de tecnologia da informação (TI) sob a acusação de suposto vazamento de dados, sobretudo um plano de comunicação que continha “pontos de atenção” para a imagem do banco.
O ato foi organizado pela AFBNDES, associação que representa os funcionários da instituição. Em sua publicação oficial, o jornal Vínculo, a AFBNDES alerta, em editorial, que os empregados precisam responder “às ações de intimidação da atual diretoria”.
“O ato de hoje é para exigir que seja respeitado o direito a ampla defesa e contraditório que a lei e o ACT (acordo coletivo de trabalho) garantem em caso de demissão. Nosso colega foi sumariamente demitido. Foi realizada uma sindicância, que equivaleria a uma investigação, e ele depôs na sindicância como testemunha. A sindicância recomendou que ele deveria ser submetido a um PAD (processo administrativo disciplinar) no qual estaria na condição de réu e teria direito a defesa, incluindo o apoio de um advogado. Essa recomendação da comissão de sindicância não foi seguida pela administração do BNDES”, disse presidente da AFBNDES, Arthur Koblitz.
A demissão sumária de Soares, que recorreu ao Judiciário para reverter a decisão da diretoria do BNDES, contraria a recomendação da sindicância mencionada por Koblitz, que ocorreu em agosto deste ano. O empregado foi dispensado — acusa a AFBNDES — sem que houvesse o contraditório, retirando-lhe o pleno direito de defesa diante da difusão de calúnias a que foi (e vem) sendo submetido. Desde sua instauração, a sindicância, para a qual dezenas de funcionários depuseram, vem sendo usada para criar um clima de intimidação e medo entre os empregados. Para Koblitz não há dúvida em relação à arbitrária demissão de Soares: o acordo coletivo de trabalho foi violado.
“A decisão de demissão foi do Gabinete da presidência. Comparecer à plenária não é uma demonstração de apoio ao que Gustavo fez ou não fez, ou um julgamento sobre se o que ele fez é certo ou errado. O que está em questão, é se ele tem ou não direito à defesa. Se ele não tem, talvez amanhã nenhum de nós tenha”, pondera Koblitz.
Segundo o presidente da AFBNDES, o episódio com Soares não causou nenhum dano ao banco porque simplesmente nenhum documento foi vazado por ele, que somente armazenava informações de um diretório público denominado “X”. O caso não iria adiante se houvesse no banco uma política de segurança severa de armazenamento e acesso às informações dessa base de dados. A sindicância constatou que nenhum empregado do BNDES quebrou senhas ou mesmo invadiu inadvertidamente a área “X”.
“Se fossemos obrigados a encontrar responsáveis pelo ocorrido, teríamos que incluir a atual diretoria, que decidiu ao mesmo tempo tocar um plano de comunicação em regime de urgência e acabar com a recém-criada área de comunicação. Isso estabeleceu as condições para que o X fosse utilizado para distribuição do trabalho em andamento. Ao invés de autocrítica de lideranças, temos a opção pelo sacrifício de técnicos do Banco (...) Não bastassem os ataques irresponsáveis, sem trégua, de oportunistas de todo tipo na mídia (social e tradicional), a perseguição dos órgãos de controle e a ação de políticos demagogos, agora a própria administração do Banco se volta contra seus empregados. Ironicamente, isso acontece quando estamos assistindo ao esvaziamento das denúncias externas. Tivemos as decisões judiciais de não acatamento das denúncias do Ministério Público Federal (MPF) na operação Bullish e a tão esperada conclusão da consultoria americana contratada sobre as operações envolvendo a JBS – isentando empregados do Banco de qualquer envolvimento em esquemas de corrupção”, assinala o editorial do jornal Vínculo, da AFBNDES.
Para Koblitz, é evidente que a lógica em torno da sindicância e de seu desdobramento é punitiva, ou seja, não houve dano ao banco no episódio envolvendo Soares e sequer uma orientação para que a área de TI buscasse soluções de segurança de dados, o que deveria ser prioridade. “Assim, a diretoria do BNDES não chegará a lugar algum”, disse ele durante discurso aos funcionários presentes ao ato.
“Nunca acessei diretório ou arquivo que estivesse bloqueado para mim, ou seja, não quebrei senhas ou fiz qualquer esforço nesse sentido. Nunca vazei qualquer informação para fora do Banco. Não tive qualquer atitude com intenção de prejudicar o BNDES ou qualquer pessoa”, defendeu-se o ex-funcionário em carta aberta divulgada pela AFBNDES.
Assessoria de Imprensa da AFBNDES
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