Foi em 1973, em plena Ditadura Militar, quando cerca de 70 mil baianos moradores dos oito municípios inundados pelo reservatório da barragem de Sobradinho foram expulsos de suas casas e propriedades rurais. Nesta terça-feira (11) de novembro de 2018, 46 anos depois, representantes das famílias dos desalojados participaram de audiência pública na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da Câmara dos Deputados na luta por alguma indenização.
“Essa é a segunda audiência que realizamos sobre os atingidos pela barragem de Sobradinho. A primeira fizemos no governo Dilma, e montamos um produtivo grupo de trabalho com a Chesf para encaminhar uma solução, mesmo que fosse à longo prazo. Infelizmente, veio o golpe e tudo foi abandonado. Agora, realizamos nova audiência, e a Chesf e o Ministério de Minas e Energia sequer mandaram representantes”, lamentou o deputado Jorge Solla (PT-BA), autor do requerimento da realização da audiência.
Logo após a reunião, Solla foi ao presidente Rodrigo Maia (DEM) no Plenário da Câmara, cobrar a participação de representantes do Executivo na audiência. “Se esse governo e o próximo não tem compromisso com essas pessoas, precisa vir e dizer, mas não pode virar as costas pra Câmara de Deputados. Isso é um desrespeito também com essa casa”, destacou Solla.
Na audiência, o presidente da Associação dos Ribeirinhos e Pescadores do Lago de Sobradinho, Genivaldo da Silva, recordou que boa parte das famílias abandonaram seus imóveis devido ao compromisso firmado por funcionários da Chesf de que haveria uma indenização a ser paga. No entanto, viveram em condição de miséria sem nenhuma assistência da estatal. “O que tínhamos era lona preta pra se proteger de cobras e escorpiões, que os engenheiros davam para nós. Não tinha sequer cesta básica, ficamos ao léu”, disse.
A pesquisadora do IPEA, Marta Rodrigues, revelou dados de pesquisa realizada com as 11.853 famílias remanescentes. “A maioria não tem água tratada, energia elétrica e mora em casa de taipa, mesmo estando muitas vezes a 10, 15, 20 km do lago. Vivem em situação de isolamento, algumas áreas não conseguimos chegar mesmo com carros ‘traçados’”, disse. Ela destaca que o trabalho foi iniciado após determinação do então presidente Lula, em 2009, que reconheceu a dívida histórica do Estado Brasileiro com os atingidos por barragens e determinou a reparação social desta dívida. Com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2013, esses esforços foram paralisados.
Ascom
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