A educação do campo é um desafio que vem dando bons resultados junto ao público atendido pelo Incra na Bahia. Desde o início do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), há 20 anos, completados em abril, foram ofertadas 22 mil vagas em salas de aula aos beneficiários da reforma agrária da Bahia.
As parcerias com as universidades públicas permitiram o oferecimento de cursos que variaram da Educação de Jovens e Adultos (EJA), passando por técnico profissionalizante até a pós-graduação. Só para cursos superiores, no estado, foram abertas 500 oportunidades que se dividiram entre as graduações em Direito, Licenciatura em Letras, Pedagogia, Agroecologia e Engenharia Agronômica, além da especialização na modalidade Residência Agrária.
Atualmente, duas turmas estão em andamento com 140 graduandos, sendo 40 deles no curso de Direito, pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), que receberão seus diplomas em julho deste ano. Os outros 100 universitários são do curso de Agroecologia, realizado em parceria com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), com previsão de conclusão em 2019.
Um dos grandes destaques do Pronera na Bahia, ao longo de sua história, foi a promoção da alfabetização e a educação básica para 20,8 mil trabalhadores rurais de projetos de reforma agrária através de cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além disso, houve oportunidade para que 818 estudantes frequentassem cursos técnicos profissionalizantes.
Compreender as letras mudou a vida da agricultora Jozélia Dias, que venceu o analfabetismo após ser assentada na área de reforma agrária Nossa Senhora Auxiliadora, no município de Camacan, em 1999. Com o curso do EJA promovido no próprio assentamento, Jozélia aprendeu a escrever o próprio nome em 2005. "Foi muito gratificante poder assinar meus documentos", descreve a ex-aluna.
O seu colega de classe, Cleudes Oliveira de Jesus, atual presidente da associação do assentamento, ressalta que melhorar a qualidade da sua leitura e escrita foi emocionante. "Antes só tinha cursado até a terceira série do ensino fundamental", revela.
O servidor do Incra, Alberto Viana, mestre em Educação no Campo desde 2016, pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), enfatiza que o Pronera possui comprovada eficácia na formação de profissionais. "Os egressos do curso de Agronomia, por exemplo, estão empregados, ocupando cargos como gestores públicos, em associações, em organizações não-governamentais e em cooperativas", constatou Viana.
Para o servidor, o Pronera é um dos únicos meios pela qual o público da reforma agrária pode acessar a educação escolar, desde a alfabetização até o mestrado. "O programa proporciona a produção do conhecimento. Além dos cursos, o Pronera, em suas linhas de atuação, pode promover pesquisa, produção de material didático e eventos", explica.
"O Pronera proporciona o conhecimento que transforma a maneira como se compreende o mundo", define o especialista em Agroecologia como Residência Agrária, Nildo da Silva Souza. A especialização conquistada em 2015, por meio da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), foi seguida da graduação em Engenharia Agronômica, grau alcançado em 2013, por meio da Universidade do Estado da Bahia (Uneb).
Segundo ele, para alguém que vive no meio rural, o programa permite oportunidade de mudar não só profissionalmente, mas também o modo de pensar o mundo e o meio agrário. Nildo é assentado no projeto Limoeiro, no município de Igrapiúna, e trabalha como técnico extensionista.
De acordo com o especialista, quando criança, não imaginava conquistar tanto e enfatiza que nunca teria alcançado sua formação sem o Pronera e a mobilização dos movimentos sociais do campo.
Além da Uneb, Uesc, UFRB, UEFS, o Incra na Bahia, contou com parcerias com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) para viabilizar as ofertas dos cursos educacionais por meio do Pronera.
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